AFIM DE VER TUA ALMA

AFIM DE VER TUA ALMA

Um misto endiabrado do sempre

renovado dia convém reservar

alguma coisa pra acontecer depois

o milagre eu entendi outra dia

quando era tão tarde e o sono

vencendo minha destreza

ainda vestida desistindo de tudo

veio dizer que preferia esperar

junto comigo vendo o dia nascer

em qualquer destes lugares que fosse

algum lugar que não fosse

estes lugares que já foram

um lugar nenhum precisando

de nós pra render propriedade

não realizei a fortuna que pensara

não quis sair com seu carro

agradeci a mim mesma pela decência

de querer ver nascer o sol

com o medo dele franco

caminhando suando muito

é que trouxe um presente interessante

que aberto era deserto de figuras

era pulsante tinha cor de sangue

nomeadas na loucura servida

as coisas todas caem do peso

fazendo pertencer ao mundo

podendo estar descalça

eu começo aceitando a poeira na roupa

aquela que chamo de sujeira

parece um novo retoque

que nada provoque o desânimo

junto um bocado desta terra

e sopro no terno tão bem alinhado

assim como as palavras

tudo sai desassossegado

de onde estava

e ele nada sorri de feliz ou contente

pensando com certeza

deveríamos estar agora

num bar numa boate dançando

no carro numa pista estacionados transando

mas quem dançou foi sua certeza

que não advinha ainda bem

que não pode me entender

quem tentou se atrever fui eu

retirando primeiro a gravata

ela logo se afasta primaveril roseado

me ofende sendo infantil de repente

enfrento as rugas dos lábios

quase gritando vamos tomar umas

taças sentamos naquela praça

tem umas pessoas lá se amando

perplexo ouvindo alguma música

que não aquelas que amo

eu roubo a cena dos sonhos dele

e peço sem dizer nada que siga

aquela mulher quase pelada

na penumbra embebedo meu corpo

pode tomar o que quiser a vontade!

MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - i cover waterfront