A LOUCURA POSSÍVEL
A LOUCURA POSSÍVEL
Precisa de uma vida mais digna
uma prisma diante da noite ferida
não sair de noite pra não ser ofendida
acabou o encanto da mulher
o espelho devolve o dessabor da mágoa
foram tantos e ainda tantos
perseguem-na nos sonhos amando
ela sente o gosto do desejo morto
por isso deixa as coisas do ultimo
jeito que elas ficaram
quando ele por último saiu pela
sacada não pela porta empurrou a janela
ofereceu a ela o corpo que doía
de tudo que sofria
não era mais do que um presente
ao que ausente da vida ficava
vivendo nos olhos nas lágrimas
lavar o rosto com sal de ontem
traz o fim mais cedo
ainda há pequenos riscos
de quem arrastava sua sina
ainda há um pedaço do resto
de tudo que acredita viver lá em cima
caído na varanda que ela insistia
deixar roubar a cena do abrir
de janelas pra ver o sol da manhã...
...um renascer estava condenado
o botão das flores podia cair
secar abrir-se polenizar enfeitar
outros jardins de outras paisagens
quando ela descer serão miragens
que o branco dos olhos não virá
sentirá o vento trazer o mundo
guardado lá em cima
respirando por fim dos anos
o tempo da clausura que permitiu
que a loucura fosse possível.
MÚSICA DE LEITURA: Billie Holiday - Strange fruit