Começar de novo

COLUNA MULHER EM BUSCA

Autoconhecimento, Espiritualidade, Saúde e Valores

Começar de novo. Letra de música. Os ponteiros do relógio giram num movimento que parece não ter fim. É a vida acontecendo, em cada átimo de segundo, dia após dia, ininterruptamente. Estou começando de novo. Por um segundo tenho a sensação de me encontrar no mesmo lugar de alguns anos atrás. O mesmo início. A mesma proposta. E, no entanto, seis anos se passaram. Um olhar para trás é suficiente para me mostrar que alguns passos foram dados. Passos importantes. Um trecho da estrada foi percorrido. Avancei! Avancei tanto que já não tenho mais medo. Quisera eu isso fosse verdade. Quisera eu ter vencido o medo que ainda existe dentro de mim sempre que me proponho a começar de novo. Não apenas um novo dia, uma nova semana, um novo mês. MEDO. Esse gigante que se apropria de mim, que me domina, que me leva a refutar oportunidades que me chegam. Convites. Desafios. Sempre ele a nos espreitar, a nos impedir de avançar, de ousar e transgredir. Medo que nos paralisa e que não nos deixa sair do lugar. Considerando que, quer queiramos ou não, o medo faz parte da natureza humana, venho descobrindo, de uns tempos para cá, uma maneira diferente de lidar com ele. A meu lado e não mais à minha frente. Caminhamos juntos, aprendendo, cada dia mais e melhor, a nos relacionar um com o outro. Ele esteve, está e, provavelmente, sempre estará comigo. A meu lado e não mais à minha frente.

A vida é feita de ciclos. Disseram-me uma vez que cada um deles tem a exata duração de sete anos. Como saber quando um tem início e outro está chegando ao fim? Os sinais fazem-se evidentes. O que era bom deixa de ser. O sentimento é de esvaziamento. A melancolia vem. Com ela o desejo de reter o que foi ou o que poderia ter sido. Não adianta. O que passou, passou. Os ponteiros do relógio movem-se. Para frente e não para trás. É preciso seguir em frente. Como? Sentimento de vazio. Medo. Melancolia. E agora? perguntamo-nos. O que fazer? Que direção seguir?

Lutamos desesperadamente contra o medo de morrer e, nessa luta, não percebemos que, para que algo de novo nasça, é preciso deixar morrer. Abrir espaços. Uma lição que venho aprendendo e que procuro pôr em prática sempre que me vem o sentimento de que algo está morrendo dentro de mim. Sinto o fim se aproximando. Deixo acontecer. Hoje sei que esse movimento é natural e necessário. Respeito meu luto. Não corro mais para preencher espaços vazios. Um ciclo se fecha. Outro se abre. Acontece. Naturalmente. O tempo. O tempo...

Viver pode vir a ser um eterno recomeço para aqueles que pretendem sair do lugar. Eu desejo sair do lugar. Descobrir caminhos. Descobrir pessoas. Abrir espaços para experimentar o que ainda me é desconhecido, o que não me foi ensinado. Flexibilidade para sentir o fluxo da vida e seguir com ele. Quero aprender a ler nas entrelinhas. Desvendar mistérios. Quero muito. Quero mais. Talvez tenha sido essa a razão para um dia terem afirmado ser eu uma eterna insatisfeita. Satisfeita e grata por tudo que tenho e sou. Insatisfeita naquilo que ainda não conheço em mim e fora de mim. Tanto há para ser explorado. Então, por que me limitar? Por que deixar de querer, de buscar e de experimentar? A vida está aí, em toda a sua potencialidade, trazendo-nos, a cada dia que passa e a cada instante, uma gama enorme de oportunidades e possibilidades. Oportunidades para fazermos diferente, para refazermos e, até mesmo e principalmente, para aprendermos algo de novo. Eu quero aprender. Vencer. A mim. Ao medo e a tudo que paralisa, que não deixa sair do lugar, que atém e retém. Movimento. Início. Meio e fim. Ondas que vêm e que vão.

O que dentro de mais alguns instantes me deverá chegar, chega-me em boa hora. Tem o seu lugar. Vem para preencher o espaço em aberto que não me preocupei em ocupar. Vou começar de novo. No lugar do medo, a excitação. Imagino um discurso em minha primeira apresentação ao desconhecido que me chega agora ou que me chegará dentro de mais alguns instantes. Deixo-o de lado. Não quero pensar e também não quero imaginar. Tudo pode sair diferente. Então, por que não deixar acontecer? Foi-se o tempo em que me armava para despistar o medo do possível confronto com o não conhecido. Hoje, não. Quero estar livre para sentir o que vier do jeito que vier. Sentir para depois, em função de meus sentidos, agir. Confio mais em mim. Então, descubro, estou em um outro lugar. Não mais aquele. O primeiro. O ponto de partida. Alguns passos foram dados. Ganhos, conquistas, frustrações. Estas últimas foram muitas. Quanto maiores as expectativas, maiores as frustrações. Viver sem expectativas. É possível? Diz-se que sim. Aconselha-se que sim. Procuro, então, não alimentá-las dentro de mim. Pelo menos não tanto como antes. Meu movimento de agora é outro. Alegria. Sensação de acerto e de bem estar. Foi o que senti ao receber e abrir o envelope. Um convite, que me fez decidir começar tudo de novo.

Talvez você nunca tenha experimentado o vazio. O espaço em branco. A folha. O corpo. Talvez não tenha medo de deixar morrer. Talvez sim. Talvez não. Quem sabe? Gostaria de conhecê-lo, de saber de sua história. Uma distância nos separa. Mas, quem sabe ela não é tão grande assim? Deixo aqui o meu testemunho de que é preciso deixar morrer. Espaços vazios são necessários e importantes. Gavetas entulhadas não comportam peças novas. Experimente. Depois me conte. Será um prazer partilhar de sua experiência. Enquanto isso, se puder e quiser, torça por mim. Estarei hoje, dentro de mais alguns instantes, começando de novo.

Com muito carinho e um afeto sincero,

Regina Dias, autora do livro Mulher em Busca,

editoras Mauad e Bapera

Site: www.mulherembusca.com.br

E-mail:reginadias@mulherembusca.com.br

regina dias
Enviado por regina dias em 10/10/2005
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