A morte de Fidel e a felicidade da estupidez humana

Suponhamos, caro leitor, que a casa de alguém seja uma extensão do quintal do seu vizinho. Este vizinho é extremamente rico e poderoso, fisicamente maior e se utiliza do quintal estendido para saciar uma gula incontrolável por poder. Esse mesmo vizinho, leitor, impõe ao invadido um comércio exploratório em que a balança pende apenas para um dos lados. Esse mesmo invasor aproveita-se de uma ajuda no passado para continuar a extrair do “novo” jardim todos os recursos que puder sem retribuir com o justo pagamento. Esse mesmo vizinho, leitor atento e especialista em História sem vínculos políticos e ideológicos, faz da casa usurpada um bordel de luxo, o destino preferido das sobras que produz.

Agora, caríssimo leitor, imaginemos que os donos da casa invadida expulsem – na força – o compatriota traidor e corrupto para tentar colocar a casa em ordem. Claro, não sejamos ingênuos, que muito sangue foi derramado. Pois bem, não nos esqueçamos do vizinho rico e poderoso. É ele quem comanda o bairro todo e proíbe, abusando de seu poderio financeiro e militar, que outros lhe ajudem. Como será que ficaria esta casa? Bom, o leitor arguto já deve ter imaginado.

Alguém, de um bairro distante, e também com interesses escusos resolve ajudar; porém, não pôde fazê-lo para sempre e os dois começam um processo de ruína em todos os sentidos. Arruinados, acabam por ficarem isolados do resto dos vizinhos e o clima de tensão é permanente.

Desta maneira, a falência é inevitável e uma sucessão de erros começa a acontecer: perseguições, centralização do poder decisório, cerceamento de liberdades individuais e de expressão etc. A casa, livre, mas solitária na vizinhança, conhece então o caos. Entretanto, apesar de tudo, há tentativas de reerguimento que esbarram na incompreensão e mera vingança de um vizinho mesquinho, egoísta e que se acha o centro do mundo.

Bom, deixemos um pouco de lado tudo isso. Nem historiador eu sou. Esta semana morreu Fidel Castro, grande líder da Revolução Cubana, aos 90 anos de idade. Para quem acompanha os noticiários do país em que vivemos e conhece um pouco que seja de História, não é preciso entrar em detalhes de sua biografia e nem dos quase 50 anos em que governou ditatorialmente o seu país. Não é isso que me interessa, mesmo porque como ser humano, ele cometeu erros e também teve acertos. Não me cabe julgar isso.

O que me deixou profundamente incomodado, foi o fato de alguns BABACAS, desprovidos do menor senso de humanidade terem comemorado, festejado a morte de um ser humano. Sim, Fidel Castro foi um ser humano (e de acordo com algumas crenças ainda continuará sendo) e merecia, no mínimo, mais respeito.

Por exemplo, uma frase bastante IDIOTA, que li no facebook, dizia algo mais ou menos assim na manhã seguinte à morte dele e sobre a morte dele “Soube agora que Fidel Castro morreu. Não poderia ter acordado mais feliz.” Isso é esdrúxulo, descabido, desumano. Ninguém, ninguém mesmo, por pior que tenha sido, merece ter a morte comemorada, festejada.

Comentários desse tipo mostram o quão desumana está ficando a humanidade. São pessoas que querem monopolizar opiniões e normalmente não têm argumentos suficientemente convincentes. São hipócritas que nada enxergam além de seu nariz empinado. São marionetes estúpidas cuja cegueira os impedem de perceber a manipulação que sofrem e que querem impor aos demais.

Quem pensa de tal maneira, materialista, extremista, não quer enxergar que os últimos anos de existência de Fidel, foram passados na mais absoluta dependência de outras pessoas. Não se deve esquecer a hipótese de que sua consciência certamente estivesse lhe cobrando os erros cometidos.

Poderia ele ter se arrependido e tentado novos caminhos? Sim, poderia. Mas o que fazer com o vizinho que continua à espreita para se alimentar e patrocinar mais uma vez a desgraça alheia? O que cada um faria?

Como é triste ver que ainda há muita gente que ao invés de se condoer com a desgraça alheia, aproveita-se dela para tripudiar, para “chutar cachorro morto”, para alimentar-se dela... Enfim, deixa pra lá; pois essas pobres almas, esses pobres seres talvez não tenham consciência de que um dia tudo o que fazemos ou deixamos de fazer nos será cobrado. São infelizes por não aceitarem que a vida não se acaba na morte e por isso já assinaram a sua sentença.

Cícero Carlos Lopes – 27-11-2016

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 27/11/2016
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