Bethânia e Pessoa

Ontem, sozinho em casa, fiquei lembrando das músicas que gostava de ouvir no passado, principalmente no início dos anos 70, no auge da repressão da ditadura militar. Um LP que adorava era de Maria Bethânia, não me lembro se Rosa dos Ventos ou Drama. Nele antes ou depois de cantar Volta por cima, de Paulo Vanzolini, ela declamava um poema ou parte dele de Pessoa. Eu ficava emocionado quando ouvia. Cheguei certa noite, tomando Montilla com Coca a ouvir mais de dez vezes esse trecho do disco. Nesse tempo eu não conhecia nada de Fernando Pessoa e prnsava, pasmem, que era um grande esquerdista. Até decorei o trecho que ela declamava, vou citá-lo de memória e sem dúvida com alguns erros:

"Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo/ Eu torno-me mais tarde ou mais cedo/ Aquilo com quem simpatizo,/ Seja uma flor ou uma ideia abstrata/ seja uma multidão ou um modo de compreender Deus/ E simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo/ São-me simpáticos os homens inferiores, porque são superiores também,/ porque ser inferior é diferente de ser superior/ E por isso é uma superoridade a certos momentos de visão. / Simpatizo com alguns homens pelas suas qualidades de caráter,/ E simpatizo com outros pela sua falta dessa qualidades/ E com outros por simpatizar com eles./ E há momentos absolutamente orgânicos em que esses são todos os homens./ Sim, como sou rei/ Como sou rei absoluto da minha simpatia, / Basta que ela exista para que tenha razão de ser".

Hoje leio o poema e, às vezes, a declamação de Brthânia, mas a emoção não é a mesma, ela evoluiu e se transformou em saudade do passado. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 28/11/2016
Código do texto: T5837107
Classificação de conteúdo: seguro