EU SOU EGOÍSTA.
 
 
Alguém chamou-me de egoísta por eu não concordar com o comunismo. Admito: sou egoísta mesmo.

Sou uma pessoa muito egoísta. Eu me recuso a dividir com os outros as coisas que eu consegui através do meu trabalho. Sou uma coxinha irascível, assumida e com assinatura – é assim que me descrevem, e eu assumo. Se eu ajudo outras pessoas? Não saio por aí fazendo propaganda disso, e nunca vou fazer. Mas penso que ajudo muito mais do que quem vive proclamando bondade e abnegação online. E não, eu não gostaria de dividir a minha casa com outra família, nem digo que gostaria.

Sou tão egoísta, que acredito em coisas surreais, como por exemplo, no trabalho, na educação e na força de vontade das pessoas. Eu acho que todo mundo tem condições de trabalhar e obter uma vida melhor através dos próprios méritos. E acredito que uma vida melhor não signifique ser rico, mas ter uma vida melhor do que aquela que nossos pais tiveram. Sou tão absurdamente egoísta, que não aprovo o aborto, mas aprovo o controle de natalidade, enquanto os que aprovam o aborto acham que o controle de natalidade é uma crueldade – afinal, todo mundo tem o direito de ter (e de matar) quantos filhos quiser.

Sou tão pateticamente egoísta, que acho que as pessoas têm que conseguir as coisas que desejam através de esforço próprio e mérito, e não através de sistemas paternalistas que determinam que, pela condição social, preferência sexual ou cor da pele, umas pessoas merecem mais do que as outras.

Sou tão ridiculamente egoísta, que, se alguém vier me dizer que eu sou fraca, não tenho condições de pensar por mim mesma, e que por isso, ela vai pensar por mim, decidir por mim e ser minha salvadora, eu a mando plantar batatas na mesma hora.

Eu não acredito em igualdade. Somos todos diferentes, temos histórias diferentes, gostos diferentes, crenças diferentes, e são essas diferenças que tornam a vida um aprendizado constante; é através delas que somos capazes de desenvolver nosso senso crítico, nossa solidariedade e por que não dizer, o nosso amor. Não acho que o mundo deva ser de uma cor só e chato feito uma bolacha; não acho que todo mundo é obrigado a viver e pensar da mesma forma. Na escola, eu já detestava usar uniforme, e sempre dava um jeitinho de personalizar o meu.

Eu não acho que apenas estudando história e absorvendo os pensamentos alheios, a gente vá se tornar pessoas melhores. Acredito que é preciso também ser capaz de ter senso crítico, conquistado através da observação cuidadosa e lógica daquilo que acontece em volta. Todo mundo sabe que a história mente muitas vezes, e que cria e mata seus heróis conforme a necessidade.

Eu sou egoísta mesmo, pois acredito que é preciso ensinar a pescar ao invés de dar o peixe. Acho que programas sociais devem ter prazo de validade, e que junto com eles (ao invés de apenas doarem coisas como esmolas) deveriam vir cursos profissionalizantes, que possibilitassem as pessoas tornarem-se independentes e sobreviverem por elas mesmas. Isso se chama dignidade humana. É claro que existem as emergências; ninguém aprende nada estando faminto. Mas após matar a fome com programas emergenciais, as pessoas deveriam ter direito à dignidade, e não precisarem mais depender de dinheiro do governo. Para isso, precisam ter uma profissão. Mas parece que nos dias de hoje, trabalhar para outra pessoa é visto como “sustentar a burguesia golpista.”

Eu gostaria mesmo que todo mundo tivesse direito à casa própria – não essas casas minúsculas e mal construídas iguaizinhas, que são distribuídas como se fossem grande coisa com pompa e circunstância, e que se deterioram em apenas alguns anos, além de serem feitas longe dos centros urbanos, nos lugares onde ninguém gostaria de morar, obrigando as pessoas a acordarem às 4 da manhã para ir ao trabalho, chegando em casa após as dez da noite. Eu queria que as pessoas pudessem escolher que tipo de casas elas gostariam de ter, de acordo com suas necessidades.

Eu sou tão egoísta, que não tenho partido político. Não acredito nos políticos. Mas creio que alguma coisa está começando a mudar, e é como uma casa em obras: primeiro, as coisas ficam fora de lugar, sujas, algumas cobertas com plásticos pretos, mas quando a reforma termina e a gente limpa e coloca tudo no lugar outra vez, estará tudo bem melhor. Nunca perfeito, porque não existe nada perfeito no mundo (a começar pelas pessoas), mas melhor.

Eu sou egoísta. Não gosto dessa coisa de ‘tudo pelo coletivo’, porque para mim, isso é a maior balela e o maior atraso de vida. Torna as pessoas acomodadas, acreditando que são fracas, que não podem conseguir nada sozinhas, que precisam sempre da ajuda de alguém, que sem alguém que lhes diga o tempo todo o que fazer, não conseguem tomar as decisões certas. A inteligência embota, os músculos afrouxam, e elas acabam se tornando massa de manobra para os mais espertos.

Acho que  a maior lição de vida que alguém poderia aprender, é acreditar em si mesmo. Acreditar que, esteja onde estiver, isso não é uma condição que precisa ser permanente. Que não é necessário ou certo invejar os que possuem mais, nem desejar sua ruína, pois isso não tornará ninguém melhor. E entender que o mundo nem sempre é justo, a vida nem sempre é justa, mas que é possível resolver os problemas; pelo menos, a maioria deles.

E mais importante: o paraíso não existe. QUALQUER UM QUE LHE PROMETER O PARAÍSO, ESTARÁ MENTINDO.


Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 29/11/2016
Reeditado em 29/11/2016
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