Minha vizinhança

Toda vizinhança, independente do local onde você reside, é uma mistura de convivência pacífica e feliz, com um toque de pé de guerra... Hoje vou contar um pouquinho sobre minha vizinhança, que possui tipos muito peculiares, mas todos convergem no quesito barulho.

Em frente a minha casa mora o Antônio, casado com a cantora Dorinha, que vive a ensaiar seus cantos, nem sempre afinados; eles têm um cão “cocker spaniel inglês” de cor dourada, chamado Sadam, este belo espécime canino, todos os dias lá pelas 2 da manhã, abre a “sessão ão-ão”, que se trata de um ataque de uivos, gritos e latidos com um som especial e curioso, no lugar do comum e clássico “au-au” é “ão-ão”. Antonio também tem uma caminhonete velha, que todos os dias precisa ser empurrada, pois só pega no tranco, e na hora de empurrar, mais barulho. Seus filhos e outros meninos da rua adoram futebol, e gostam de jogar na rua, principalmente fazer o meu portão e o da casa deles de goool, é cada batida que chego a pular de susto.

Tem o Arnaldinho, esposo da costureira Maria. Ele tem um portão que eu classificaria com a famosa alcunha de “portão acorda vizinho”, é só ele abrir que a vizinhança toda acorda mais cedo. Ao lado tem André e suas namoradas escandalosas. Um pouco à frente, o bar do Orlando, onde todo sábado por volta das 18 horas, quando acaba o jogo de futebol no campo, lá vem aquela “homarada” jogar truco, beber, gritar e cantar.

Contamos também com a vizinha “crek-crek”, só anda de salto alto, e o mais interessante, quando ela vem lá pela esquina, todos já sabem de sua agradável presença. Os filhos da viúva, com aquela obra interminável, um eterno barulho e uma poeira que nunca acaba. Do outro lado, o João, este é o “caladão de plantão”. O novo vizinho da bicicleta, que fez questão de deixar as marcas do pneu, num cimento de conserto feito em minha calçada. Tem a briguenta Arleide, no dia que acorda com os dois pés esquerdos, sai de baixo, o primeiro que passa é fisgado, e aí, briga na certa.

Os ritmos musicais em minha rua são super variados: o funk da Mariana, o pagode da Dona Sofia, o gospel da costureira Maria, o axé do André, o sertanejo do Pedro, e as minhas adoráveis filhas, que às oito da manhã, já estão a bailar e divinamente desafinar um inglês aportuguesado em nossa garagem. O mais interessante é quando misturam-se os ritmos. Nisso tudo tem algo que me deixa muito feliz, rendo todas as minhas homenagens aos inventores dos fones de ouvido, pois com uma vizinhança barulhenta assim, vale a pena investir, em tais aparelhos.

Apesar de todas as adversidades em minha vizinhança, e em todas as vizinhanças existentes, temos que colocar em prática o diálogo, que é fundamental para uma convivência tranqüila, e respeitar as diversidades, pois no fundo sempre haverá alguém para incomodar e outros para serem incomodados.

Vizinhança seja em cidade grande ou no interior, em edifício, casa ou sobrado, só muda o endereço, mas no fim tudo é sempre o mesmo.

(OBS: Os nomes dos vizinhos citados são fictícios).

Esta crônica, segue o tema “...vizinhos, vizinhança...”proposto no Fórum do “Recanto das Letras” – tópico: Crônicas

28/07/2007