O VALOR E O PREÇO

Existe uma diferença entre valor e preço. Ainda que as pessoas não percebam, nem tudo o que tem preço, objetivamente, tem valor. A vida, por exemplo! (...) A vida não tem preço, mas é de imenso valor. Alias tudo o que tem valor, subjetivamente, não tem preço. E o que tem preço, quase sempre não tem valor.

Outra coisa que não tem preço é o amor! O amor não tem preço! Você pode pagar para ter um homem – uma mulher se for o caso – mas só terá o seu corpo. Jamais o seu amor. Parece mesmo que o que tem valor não está e jamais estará a venda. Não está estampado nas páginas atraentes das revistas – nem nos capciosos anúncios da TV – não será encontrado nas vitrines dos shoppings e muito menos nas butiques, freqüentadas por pessoas vazias à procura de auto-afirmação.

Existem outras coisas que não têm preço, e são de inestimável valor. A felicidade, por exemplo! (...) Quem venderia a sua felicidade? (...) Ou, quanto se pagaria por ela? Quem colocaria a venda, os momentos mais importantes de sua vida? (...) As lembranças dos tempos felizes que – como Starts da alma – acendem a luz nas densas noites de treva?

O prazer, sim! (...) Esse tem preço! E, na maioria das vezes, não tem valor algum. Você pode sentir prazer numa camisa, numa calça, num vestido, num sapato, num amante (a) (...) Mas, e depois? (...) Depois que a camisa desbotar, que a calça puir, que o vestido ficar babado e o sapato furar (...), depois que o orgasmo passar e a pessoa ao lado, nada representar – senão uma transa, incandescida pela erotização inconsciente da libido. Maquiavelicamente manipulada pelo ascendente mercado sexual. O que será? (...)

Eu poderia perguntar: “qual o preço de um tênis – da Nike, por exemplo?” E você responderia: “é muito caro!” – E, eu poderia então, mudar a pergunta: “quanto você acha que vale um tênis – da mesma marca – para os pobres indianos ou para os camponeses da china que os fabricam a preço de sangue – em mão de obra, quase escrava – para depois serem vendidos a peso de ouro em nosso mundinho ocidental – famigeradamente regido pela ostentação? (...)” Talvez você nem me respondesse! Talvez você penas exprimisse aquela velha interjeição que, sobre tudo, delata o espanto diante do que não pode ser entendido: “han!? (...)”