PÁTRIA AMADA

Um velho que há muito vivia, há muito cantava e dizia. Seu canto rouco era como a voz de uma cigarra louca; dissonando o fim de um verão que se foi. Na plenitude dos seus QUINHENTOS ANOS e no tom lúdico – de sua cândida voz – compreendia-se a razão do ser e vislumbrava-se uma harmonia decadente. Porém, plácida. A história tosca e pueril, de uma vida qualquer. Comum! Dessas que se identificam com vários biótipos de nosso coti-dia a dia. De alguém que assistiu ao desfile, da janela e logo depois descobriu que o enredo velado de sua vida desfilava impudicamente na mesma avenida, através dos Pedros; dos Paulos e das Marias.

“Avenida? (...) Que Avenida?” E quem se importa? Afinal são tantas: Brasil, Paulista, Navegantes, dos Artistas (...) umas que vêm, outras que vão. Na reta oposta da vida, na ensandecida contramão.

“Artistas?” Sim, malabaristas! (...) Que driblam as impudicícias dos homens de cartola. Xiii! (...) Esqueci dos colarinhos! Você sabe! (...) Aqueles sempre branquinhos! Que sempre têm cartas de sobra! Que sobra sempre pra gente, para os Pedros, para os Joãos, para as das Dores, Consolação (...).

Consola-me, ó Pátria Amada! “(...) DO SOLO ÉS MÃE GENTIL (...)” Retira das bocas tuas tetas. Derrama teu leite no chão. O chão é povo, é massa! É gente de calo na mão. pingo de gente miúda –anonimamente oculta – construindo a preço de sangue, o futuro dessa nação.

Os ouvidos de todos os que te ouviram, não “(...) OUVIRAM DO IPIRANGA (...)”. Às margens plácidas ficaram, todos Chicos e Zés. Mas, se a margem da vida é plácida, então ria quem puder!

E Zé, é apelido? Apelido é coisa de pobre! De rico é epíteto! Pode ser também uma abreviatura. Abreviatura do nome José. Mas me parece mesmo, ser um Pré-fixo. Pré-fixo de coisa qualquer: zé das couves, dos cocos, das quantas, das tantas, Zé perequeté! Como esse velho que canta – a vida de marcha-ré. Como nós que empurramos na urna, a nossa “semente” de fé. E depois recebemos de troco um nome ilustre e vistoso, com pompa de “ZÉ MANÉ”.

“Socorre-nos! (...) Ó Pátria amada! (...) Dos ricos, és mais gentil!” Do outro lado gritando, gastando bem o Brasil, estão quem não tem apelido. Mas, nomes sim, com certeza! São Collors, Malufes e Pitas (...), Valérios, Delubios, Calheiros (...), os Náias (...) os Hildebrandos (...) mas, brandos só para si.

Mediante tamanha “lisura”, termino essas linhas cantando:

“Oh Patria amada, idolatrada... Salve ‘salve-se’, quem puder!”