O Elo Mais Fraco

 

 

            A culpa é do piloto. Não me surpreende tal afirmação, mesmo que as caixas pretas (sombrias porque misteriosas) ainda não tenham confirmado o veredicto. Tal hipótese não me surpreende. Questiono ao atento leitor: quem é o mais fraco elo?

 

            1) O governo?

            2) A TAM?

            3) A Airbus?

            4) Os pilotos?

 

            Acertou e vai ganhar um pão de queijo, quem respondeu a alternativa quatro. Aguarde a chegada do prêmio no próximo vôo a se espatifar no prédio ao lado. Acreditamos que tragédia nunca acontece com a gente, no máximo é coisa que atinge o vizinho.

 

            Importa se a pista do aeroporto em questão não tem área de escape? E o tal reverso lacrado, poderia ter ajudado em algo se estivesse funcionando? A pista é de cumprimento seguro, possui drenagem perfeita? Culpa-se a cidade que cresceu demais e a pressa das pessoas em viajar cada vez mais e mais rápido – a segurança é um detalhe que atrasa tudo. A fila tem que andar; o capitalismo não pode parar.

 

            Os pilotos não mais estão aqui para se defender. Sua versão será ouvida (?) em fitas com sonoridade duvidosa, quem sabe se montadas, editadas e com veracidade atestada por peritos de um estranho e exótico país do bloco norte, aquele alheio a riscos típicos de nações pouco desenvolvidas. Minha mania por escrever tem feito com que veja os eventos do cotidiano como um enredo de ficção e passe a acreditar em conspirações – eventos soturnos onde o que menos importa é a verdade, mas livrar a cara de quem tem mais poder.

 

            O presidente se esconde. Alguém o tem visto por aí? Ainda ouço as vaias do Maracanã. Pan-pan-pan...

 

            Depois de um “top-top”, vejo agora os foguetes subindo no planalto, o alívio nos gabinetes da Cia. de Aviação e da construtora de aviões. Alguém vai entrevistar a família dos pilotos e saber de suas dores? E as vítimas? Mortos não falam; apenas se calam e se escondem por aí em buracos ornados por flores.

 

            Conveniente matéria da principal revista do país. O presidente deve se sentir mais aliviado. Um assessor invade a sala e exibe a matéria. O homem do povo, não tão popular agora, pergunta:

 

            - Saiu como queríamos?

            - Sim, senhor. Propositalmente vazamos a informação. Caíram como patinhos. Top-top-top.

 

            O exemplar é lançado em uma mesa de centro. Ele, em pé junto à janela, deita seus olhos no horizonte do Planalto Central. O sol poente brilha no lago. O líder da nação sente-se só. Iguala-se nesse momento ao vazio que habita a família dos pilotos, e das vítimas, falta apenas trancar-se em um buraco, sobre o qual lançaremos um punhado de terra e ornaremos com flores. Perdoem se não tem graça o texto de hoje. Faço um minuto por todos nós.

 

            Anuncio, para o bem de todos e felicidade geral da nação, que a crônica acima é mera obra de ficção, sem verossimilhança com qualquer fato ou pessoa real...