ANIVERSÁRIO DA AV. PAULISTA

Projetada pelo engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, a Avenida Paulista foi inaugurada em 8 de dezembro de 1891. Como na época a cidade de São Paulo contasse com cem mil habitantes, a ideia foi criar um local para residências sofisticadas mais afastado do centro. O lugar escolhido foi o espigão, com cerca de três quilômetros de extensão, onde havia chácaras e mata, que até então servia de passagem para cavalos e boiadas. A avenida tinha três faixas: uma para os bondes, a central para carruagens e a outra para cavaleiros, todas ladeadas de magnólias e plátanos. Seu piso era de pedregulhos brancos. Dos dois lados da avenida o que se via ainda eram lotes de terrenos mais ou menos regulares. A linha do bonde, aquele puxado por burros, foi inaugurada na mesma ocasião. O bonde elétrico só chegou mais tarde, em 1900, ano em que inaugurava-se em Paris a primeira linha de metrô!

Inicialmente ali foram construídos belíssimos e imponentes palacetes para moradia das famílias mais ricas da época, incluindo os barões do café e importantes industriais e comerciantes, em geral de origem árabe e italiana, como os Matarazzo e os Lunardelli, por exemplo. Quase todos foram projetados por célebres arquitetos, como Ramos de Azevedo e Victor Dubugras. Em 1909 a avenida Paulista foi a primeira via pública de São Paulo a ser asfaltada.

O paisagista francês Paul Villon foi chamado para organizar o Parque da Avenida, o Trianon, mas o belvedere diante dele foi projetado por Ramos de Azevedo e inaugurado em 1916. Tornou-se ponto de visitação para os paulistanos e estrangeiros. Os estrangeiros ficavam maravilhados com o “boulevard”, chegando a comparar a Paulista com avenidas de Nova York. De lá se avistava de um lado o rio Pinheiros e do outro, a vista alcançava o centro e se estendia até a Cantareira. O final da avenida dava para os morros do Pacaembu.

Destinada desde seu nascimento a ser o local mais importante da cidade, durante as décadas de 20 e 30 ela foi palco de corridas de carro e corsos carnavalescos. Minha mãe contava que esses corsos eram muito bonitos e bastante concorridos. Os fordecos, alguns com a capota arriada, apinhados de alegres jovens enfeitados e fantasiados rodavam lentamente de um extremo ao outro da avenida e de lá voltavam novamente. Sempre a se exibir e a jogar confete nos pedestres que das calçadas acompanhavam a festa de boca aberta.

Somente em meados de 1950 é que ela deixou de ser região estritamente residencial e por lá começam a aparecer edifícios verticais, alguns residenciais, outros para uso comercial. Em 1956 foi levantado o Conjunto Nacional no lugar de uma casa construída em 1903, destinada a ficar na história da arquitetura como a primeira art-nouveau, de autoria de Victor Dubugras, um dos mais conhecidos arquitetos da época. O Conjunto Nacional, que ocupa todo um quarteirão, tem uma parte residencial e outra comercial. Ali foram instalados além de escritórios, restaurantes e lojas, os luxuosos cinemas Astor e Rio. O restaurante Fasano, num grande espaço, promovia jantares dançantes. Adolescente, cheguei a frequentar, em traje de gala, bailes de formatura realizados nesse local. Bancos e muitas empresas mudaram suas sedes para a avenida Paulista.

Aos poucos os casarões foram desaparecendo, mas nem por isso a Avenida perdeu sua importância, ao contrário. Permanece até os dias de hoje como o coração da cidade, apresentando os mais belos e modernos edifícios, quase todos envidraçados. Ao longo de sua extensão há mais de 45 agências bancárias, inúmeras bancas de jornal, não sei quantas farmácias, 40 salas de cinema, dezenas de lojas, bares, restaurantes, livrarias e importantes espaços culturais, como o Masp, Itaú Cultural e Conjunto Nacional. Isso tudo além do Hospital Santa Catarina, o tradicional Colégio São Luis, Parque Mário Covas, Parque Trianon e sedes de 20 consulados. No espaço do antigo Cine Astor, hoje vemos instalada a Livraria Cultura. E recentemente no lugar da mansão dos Matarazzo foi erguido o moderno Shopping Cidade São Paulo.

Com o passar do tempo desapareceram cavaleiros, carruagens, fordecos e bondes, assim como o piso de pedregulhos brancos. Agora carros, ônibus e bicicletas convivem, cada um em sua pista exclusiva, ficando a ciclo faixa pintada de vermelho ao centro. Pelo subterrâneo corre o metrô. Aos domingos e feriados a avenida é liberada para pedestres e ciclistas que por ali passeiam em grupos de amigos ou familiares, como se fazia antigamente na praça da matriz ou da catedral em qualquer cidade do interior.

E é para lá que o povo sempre se dirige para manifestações de cunho político. Ultimamente a Avenida Paulista tem sido palco das maiores manifestações do país, acolhendo milhões de pessoas vestidas de verde e amarelo, empunhando bandeiras, na luta contra os desgovernos e a corrupção que vem corroendo a dignidade dos brasileiros.

É interessante notar que apesar das inúmeras transformações a Avenida Paulista nunca perdeu o status de local mais importante da cidade. Até os franceses que por aqui chegam se referem a ela como “Os Champs Elysées de Saõ Paulô.”