Historias da vila -07 de setembro

Historias da vila

7 de Setembro

Na entrada da vila, em frente ao bar da D. Vitoria, a bagunça corria solta naquela manhã, as crianças em alvoroço quando alguém grita: olha o ônibus, o ônibus chegou. D. Terezinha desesperada chama o Tunim,corre, vai lá à padaria e compra meio quilo de salame e pão, corre que dá tempo. As pessoas iam se acomodando dentro daquele ônibus, quando o motorista já estava dando partida, alguém falou o Manoel, está faltando o Manoel, à discórdia se imperou naquele momento, uns dizia para deixa-lo para traz, outros eram contrários, sem o Manoel, este ônibus não sai! Quando lá na esquina, aparece o Manoel com meia de pinga na mão, a turma do samba lá no fundo do ônibus comemorou e atacou uma musica que era sucesso e neste ambiente de alegria o ônibus partiu, destino, Lagoa da Prata.

A beira da lagoa, o sol queimava a pele, e era difícil de andar naquela areia quente, todos aproveitando as delicias daquelas aguas. Estávamos tomando umas cervejas nas barraquinhas, quando percebemos uma aglomeração ás margens da lagoa e deparamos com um corpo estendido no chão, e a tentativa desesperada para reanima-lo. Naquele momento o mundo parou o tempo já não corria e nada tinha importância, as lágrimas teimavam em escorrer pelas nossas faces estava ali o nosso irmão o nosso amigo, aquele que sempre trazia em seu rosto um sorriso largo e generoso. Ainda carrego na memória, aquela imagem de uma camionete se perdendo na poeira da estrada levando em sua carroceria o corpo de um amigo e ao seu lado a figura de seu pai, talvez não acreditando no acontecido. Feito os trâmites legais para liberação do corpo, me prontifiquei acompanha-lo, e assim dentro daquela viatura fúnebre seguimos para a capital. Chegamos ao anoitecer, nos dirigimos ao prédio da Medicina Legal, quando fomos surpreendidos pela recusa das autoridades (otoridades) em receber o corpo, pois precisava da autorização do delegado da cidade, seu pai se dirigiu a delegacia da cidade industrial para providenciar esta autorização, nisto o motorista da funerária disse que não poderia ficar e a porta daquele prédio descarregou o seu caixão, e ficamos ali ele no seu caixão e eu do seu lado, pela ultima vez. Retornando a vila já tarde da noite, a encontro em um silêncio profundo, algumas luzes acesas, todos em seus humildes barracos, todos tristes e começa a garoar e ali percebo que a vila está chorando, chorando pela perda do seu melhor percussionista.

Charles Vagner
Enviado por Charles Vagner em 10/12/2016
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