Estúpido cupido

Motinha é aquele oficial da reserva da Força Aérea Brasileira, mecânico de aeronaves, músico, bom de farra e namorador que, há quarenta anos saiu de casa e nunca mais voltou. Até hoje, não se sabe o que provocou a atitude extremada.

Gertrude, a ex-mulher, depois da separação, voltou-se para as coisas da igreja e a educação dos filhos. Bonita, e muito vaidosa, a esposa abandonada sempre primou pela aparência pessoal. Faz gosto vê-la sóbria e elegantemente arrumada.

Anos depois da separação, Motinha engatou um novo relacionamento. Mas, a vida tem o seus revezes e a nova companheira de Motinha, apesar de bem mais jovem que o próprio, morreu. O oficial da FAB, no seu apurado senso de humor, passou a dizer-se civilmente viúvo e separado.

A festa de aniversário da neta caçula de Motinha ia ser de arromba. Saulo, pai da menina, com a firme idéia de reunir toda a família, e - quem sabe? - proporcionar uma reaproximação dos pais separados, convidou-os, individualmente, para o regabofe.

Alguns cuidados foram tomados um possível encontro entre eles, se transformasse em constrangimento. Na festa, providenciou-se para que “as partes” mantivessem estratégica distância.

Adolfo, que é amigo de ambos, dividia-se entre uma e outra mesa: ora dando atenção a Gertrude, ora entretendo Motinha. Lá pelas tantas, talvez estimulado por algumas doses de uísque, ele argumentou com Gertrude:

- Puxa vida, dona Gertrude, vocês formam um casal bonito e muito elegante. Já se passou tanto tempo desde que vocês se separaram... Porque não reatar e levar a vida juntos? Porque vocês não aproveitam o momento e esquecem o passado?

- Nem pensar!!! – respondeu secamente a veneranda senhora.

“Talvez com um pouquinho mais de jeito, eu consiga meu intento e faça este casal feliz”, Adolfo pensou e contra-atacou:

- Dona Gertrude, eu me submeto ao papel de cupido e pombo-correio... Se a senhora quiser mandar algum recado para o Motinha, eu transmito exatamente o que a senhora disser.

- Meu filho, você diz pra ele o que eu quiser? – Perguntou dona Gertrude, apoiando a mão no ombro do neo-alcoviteiro.

Exultante, pensando estar perto de seu objetivo, Adolfo ouviu dona Gertrude sussurrar-lhe:

- Então vá até ele e diga: “Motinha, a Gertrude mandou dizer para você ir para a puta-que-o-pariu!”

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 30/07/2007
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