MACARRÃO AO MOLHO CHOP SUEY OU A ADORAVEL COZINHA CHINEZA

Permita-me acompanhá-lo em seu passeio à China. Garanto-lhe que irá desfrutar de um deslumbrante roteiro gastronômico conhecendo uma comida delicada, harmoniosa, rica em cores e sabores e que encanta o paladar.

Temperos e receitas milenares para atender um povo que representa hoje, a quarta parte da população do mundo.

Mas é tanta gente, tão grande o número de habitantes, que nada que seja objetivamente comestível pode ser desprezado. Comenta-se que eles comem tudo que voa, exceto os cometas e, tudo que tem quatro pernas, exceto as mesas.

E deve ser verdade. Não foi sem motivo que até Marco Polo, há longínquos setecentos anos atrás, em sua lendária peregrinação a esse país, ficou pasmo e assustado. Quando percebeu que eles comem normalmente búfalo, gato, cobra, rato, lagartixa, morcego, insetos e suas larvas, vermes, a mais completa fauna marinha incluindo todos os frutos do mar além de baleia e barbatanas de tubarão.

Isto sem contar certos restaurantes especializados em menus místicos e medicinais que se utilizam de ingredientes decididamente exóticos como morcegos secos, pó de chifre de rinoceronte, cavalo marinho, corno de veado e fungos de lagarta, entre outros, menos confessáveis.

E comem toda essa parafernália com apenas dois palitinhos, instrumentos que utilizam há três mil anos.

Nosso garfo tradicional, é bom que se diga, existe há pouco mais de trezentos anos e é considerado ridículo pelo chinês tradicional. Porque tanto ele como a faca sempre foram de todo inúteis para um povo cuja comida sempre foi servida em pedaços.

Porque o corte de carnes e legumes é uma das elementares obrigações do cozinheiro. Especialmente num país que a mão de obra é abundante e barata. Por isso mesmo a comida deve vir corretamente porcionada à mesa.

No que estão absolutamente certos. Aliás, se V. se esforçar, vai sentir que é fácil aprender a manusear aqueles danados pauzinhos. E, se conseguir aprender, vai adorar a comer com eles.

Como acompanhamento para quase toda a comida V. vai receber arroz e macarrão. São excelentes. E, assumem tantas e tão variadas formas que daria para escrever um livro só com suas receitas.

Eu, modestamente, tentarei contribuir com mais uma. Não ousaria afirmar que é melhor que a tradicional mas é com certeza mais completa e muito saborosa.

Trata-se do conhecidíssimo macarrão ao molho chop suey que, pelo que se sabe, é de todo desconhecido na China.

Confira. Compre macarrão japonês. Tal fato não constituirá qualquer equívoco porque a cozinha japonesa tem como fonte primeira a chinesa. Prepare alguns ingredientes como folhas de acelga, brotos de bambu, rodelas de nabo e de cenouras, flores de brócolos e couve flor e alguma vagem picada.

Depois de picados em pequenos pedaços salteie-os em um wok levemente guarnecido com pouco óleo por alguns minutos. Separe, mantendo aquecidos todos esses legumes.

Na mesma frigideira, depois de colocar mais um pouco de óleo, salteie alguns pedaços de carne como boi, porco, peixe e alguns camarões de porte médio. Fogo forte, não permita que percam qualquer parcela de água mas procure fazer com que a carne ganhe aquela crocante película exterior permanecendo tenra e macia em seu interior. Reserve.

No mesmo wok coloque um pouco de açúcar e espere caramelizar . Acrescente molho shoyo e um pouco de maisena dissolvida em água. Faça retornar à panela as carnes e legumes reservados. Acrescente o macarrão já cozido. Misture tudo e prove. A iguaria à sua frente é difícil de ser superada. Seu paladar é soberbo e nenhum oriental poderá fazer-lhe o menor reparo.

Tente agora os pauzinhos. Se não conseguir abaixe a cabeça, disfarce, mostre-se desolado e peça um garfo. Em nenhuma hipótese utilize faca. Cortar macarrão ou tentar picar a carne constitui suma heresia gastronômica.

Mas esta receita somente deverá ser preparada quando de seu retorno ao lar. Agora que você está a passear na China certamente não quererá deixar de experimentar aqueles típicos e singulares pratos que nunca mais terá oportunidade de degustar.

Comece com uma cobra fatiada com brotos de bambu. Peça, depois, aquela rara e caríssima sopa de ninho de andorinha. Caso não encontre, contente-se com qualquer outro ninho comestível de pássaro. Sim aquele que o bichinho constrói com sua saliva a beira dos penhascos.

Não deixe de sentir o prazer de saborear a carne de asno temperada e estômago de cabra com fungos nativos. Você igualmente poderá pedir chifre com carne curtida ou mesmo pulmão de porco fatiado. Reserve um momento especial para uma noitada dedicada aos frutos do mar e procure degustar pepinos do mar fritos com cebolas. E arremate com ovários e glândulas digestivas de caranguejo. Fritos, naturalmente.

Eu, lamentavelmente, não poderei acompanhá-lo nessas sessões gustativas. Adoro a comida chinesa mas a que me seduz é aquela levemente ocidentalizada. Como a que se pratica nos restaurantes típicos tupiniquins, que é francamente deliciosa.

E, depois, não estou com a fome toda que V. pensa.