SISMÉRIA - pequenos traços

SISMÉRIA - pequenos traços

Primeiro pegou meu lenço colorido

colo macio disposto de pernas cruzadas

segundo sua delicadeza estranha

não me queria perto dele

fazendo pouco da minha proeza

de mulher fatalista e direta

meus ataques firmes estavam sem véu

podia me ver sentindo o terceiro

encontro chegando ao lado

como a via de ciúme incompreendida

ou por bem não aceita conforme eu queria

faz nascer um perigo gostoso de sentir

daqueles que acendem distantes

ele tratava minha peça de maquiagem

de uma maneira engraçada assoprando

querendo que ela voasse pela janela

se eu for até a janela vou disfarçar

olhando bem lá embaixo atrevidamente

deixar meu quadril ensaiado

apertar minhas curvas prendendo sua mente

desapertando a gravata de repente

ele pode querer vir pra cá se oferecer

e meu lenço seria uma peça da ação

que o teatro da ocasião fez permitir

por que não usar desta magia perfumada

ele não tirava suas narinas daquele

pedaço de mim atando nos pulsos

hora deixando cair parecia desejar

que eu seria assim aquelas mulheres

comuns pensando em tê-lo sexualmente

pelo verão do rosto entregar-me por baixo

da roupa podia estar sentindo

o que ele não soubesse

mas ele sabia tão perfeitamente

que logo que veio encontrar-me

colocou o lenço pendurado próximo

a quase deixa-lo cair

quando fui pegar parei discreta

e fiquei encostada na parede

com um das pernas levantando a saia

no rasgo que subia até mostrar

pequenas marcas num relevo natural

acompanhadas do meu corpo

que a pele o fez gozar ali mesmo

eu podia sentir o quanto aquilo

o fazia mal não podia ser quem era

a festa a recem estava começando

e no entanto também eu mal o conhecia

esse era o mal melhor do que o normal

seria ter um bem comportado

ou aqueles animais desesperados

que transam em banheiros

os malandros que dançam pra provar

o que nunca são fora disso

transamos de olhos comemos as frutas

doces dos lábios descobrimos do mal

falando coisa nenhuma rindo a toa

na proa perto de pular no rio secreto

tiramos a roupa no jardim

em fim não estavamos muito bem

vestidos só tinhamos aquelas pompas

para não parecer que viemos

buscar amor num lugar diferente...

MUSICA DE LEITURA: ELLA FITZGERALD - CRY ME A RIVER