A MÁQUINA DE LAVAR ROUPAS

No silêncio da tarde a máquina de lavar roupas trabalhava e seu barulho atrapalhava minha leitura. Fui verificar se algo poderia ser feito para evitar aquela perturbação. Não podia!

Resignado olhei para a máquina e pela sua porta envidraçada enxerguei o balé de roupas intimas que se misturavam: sua camisola passava abraçando a calça do meu pijama; a manga da camisa agarrando seu sutiã, enquanto minha cueca dançava com sua calcinha. De tão juntos que estavam pareciam uma peça só, rolando em círculos. De repente apareceu um pé de meia dando chutes em qualquer coisa que dele se aproximasse; o lençol que nos cobriu, testemunha da noite de amor, passeava como nuvem branca tocada pelo vento; juro que vi um fio do seu cabelo em uma das fronhas que se debatia tentando expulsa-lo de si.

De repente veio o silêncio e, logo em seguida, o suave rumor da água que escoava levando junto todos os vestígios da noite passada: o calor de nossos corpos nus que ficara retido no lençol, nossos pelos desprendidos com o roçar dos corpos, os cheiros e tudo o mais... Ainda bem que a lavação não foi capaz de apagar as lembranças e os nossos sonhos.

Tentei retomar a leitura, mas fui convidado para lanchar, atendendo prontamente o convite, pois o cheiro de café fresco e pão de queijo estavam irresistíveis.

É... prosseguirei a leitura noutra hora ou em outro dia.

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 12/12/2016
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