QUEBRANDO A ROTINA

Hoje o dia iniciou diferente. Por ironia do destino ou da meteorologia estava a 4,5 km do meu trabalho sem moto e sem carro. Isso acabou me obrigando a caminhar 500 metros até o primeiro ponto de ônibus. No caminho encontrei um moto-taxi e perguntei se estava livre. Disse que não enquanto aguardava impaciente o passageiro atender a porta. Disse-lhe que se não o atendesse que eu poderia ir com ele. Desci a rua e pedi que me parasse se assim fosse.

Caminhei alguns metros e o vi passar por mim com sua passageira. Fui caminhando e observando a cidade. Passei por uma senhora que varria a calçada observada pelo cachorro que contemplava o cenário com olhos meio abertos. Saudei a senhora com um bom dia que teve como resposta a mesma saudação com certa timidez. Fazer isso de moto ou de carro é impossível. Só buzinadas para raros conhecidos que cruzam nosso trajeto. E começar a jornada com um bom dia é mais harmonioso que uma buzinada.

Continuei caminhando e vi outro cachorro que me olhava com olhinhos apertadinhos, o que me levou a lembranças de pessoas. Com quem ele parece? Não me é estranho. Reforcei minha teoria de que todo cachorro se parece com alguma pessoa, alguns com seu dono inclusive.

Na posição de pedestre notei a impaciência do trânsito o qual estou na maioria das vezes na posição de motorista. No meu bairro atual há longo trecho sem calçadas e muitos pedestres que precisam caminhar pela sarjeta. O que faz da estreita avenida uma espaço de competição de motos, carros, caminhões, ônibus, máquinas agrícolas e dos frágeis pedestres. Senti esse drama com veículos tirando uma fininha ao passar por mim.

Chegando ao ponto de ônibus que se compunha apenas do poste com três placas coloridas indicando as linhas (Vermelho, amarelo e verde) e chão de barro, encontrei uma gentil senhora que se dispôs a me explicar que ônibus eu tomaria para chegar ao meu destino. E percebi que o melhor ônibus havia passado por mim antes de chegar ao ponto. Mas a linha vermelha me salvou. Deixar-me-ia a 01 km do meu trabalho, mas era o mais próximo possível que se poderia chegar de ônibus urbano na cidade de Passos naquela hora e daquele lugar.

No ônibus já acomodado em meu lugar fui observando o cenário urbano, contemplando casas, veículos, lotes vazio, construções e pessoas que tomavam o ônibus, que caminhavam pela rua, ou que observavam parados na calçada ou nas janelas das casas. E como não observar as ruas? Ruas abandonadas, remendadas com pouco ou nenhum capricho, buracos, entulhos, sujeira. Uma pena uma cidade do porte de Passos ser tão descuidada.

Passamos por vários bairros e pelo centro todo enfeitado para as compras de Natal. Foi um passeio. Em quase uma década na cidade, quase não tinha andado de ônibus coletivo. Foi bom, agradável. Sem ansiedade pude observar a cidade sem pressa de chegar. Desembarquei no terminal urbano e fiz a caminhada pelo centro até chegar a meu destino.

A pé fui observando a vida urbana e seus comércios. Alguns descarregando mercadorias do caminhão para seus estoques, outros limpando as calçadas, outros fazendo cálculos e anotações. E todos aguardando os clientes e seus 13° salários.

Gleisson Melo
Enviado por Gleisson Melo em 16/12/2016
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