Minha experiência com um "tucano"

MINHA EXPERIÊNCIA COM UM “TUCANO”

Miguel Carqueija

Faz muitos anos o cronista Paulo Alberto Monteiro de Barros, mais conhecido como Artur da Távola, mantinha uma coluna no jornal “O Globo” e eu às vezes lia (entre parênteses já naquela época minha leitura deste jornal, então em franca decadência, já era bem menor do que antes; hoje em dia “O Globo” é de todo insuportável). Certa vez ele disse estar escrevendo uma memória da televisão brasileira. Aproveitei a dica e lhe mandei uma carta (não era o tempo da internet, e demorei a ter...) sugerindo fazer referência ao tempo em que, na TV Tupi e na TV Educativa, passavam habitualmente programas italianos inclusive apresentados pela Rita Pavone, de quem sou fã desde 1964. De fato eu vi muito na época o “Stasera Rita” e o “Partitissima” cujo nível era muito superior ao comum dos musicais da tv brasileira.

Creio que fiquei surpreso quando Távola me respondeu, enviando uma carta agradecendo minha sugestão e observando estar preparando lentamente o material, ou seja, levaria tempo.

Nunca soube se ele completou tal livro e muito menos se aceitou minha sugestão. Entretanto (e não posso me queixar de sua educação) Artur da Távola passou a me enviar regularmente os impressos de seus textos e pronunciamentos, pois era ou se tornara, nesse ínterim, senador. Ele foi um dos fundadores do PSDB, o partido dos “tucanos” como se auto-intitulam.

Então, incomodado pelo uso do termo, tornei a escrever ao cronista, sugerindo que os políticos do PSDB fizessem alguma coisa pelos tucanos reais, os da Amazônia, perseguidos como os demais pássaros silvestres e correndo o risco da extinção. O senador enviou-me uma carta lacônica, um bilhete, mesmo assim cordial, dizendo simplesmente que iriam sim, cuidar dos tucanos de verdade.

Apesar dessa promessa ecológica nunca mais ouvi tocar no assunto. Depois ele morreu e o PSDB chegou ao poder e fez gato e sapato do Brasil.

Nunca achei Artur da Távola um grande escritor e suas crônicas eram algo frívolas. Seu real mérito na mídia foi ter apresentado na Rádio MEC um programa sobre música erudita, na qual ele contava a história de grandes mestres.

De qualquer forma, jamais votei no PSDB e nem aprovei seu tipo de política arrogante e insensível. O Távola talvez fosse o melhor dentre eles...

Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2016.