2017:SEU SIGNIFICADO POLÍTICO

Em 2016 o tumor veio a furo. No meio da maior crise financeira desde 1929, o Brasil teve suas podres entranhas expostas. Não há Estado, não há Município em que não se encontre alguma coisa – basta procurar. Não é apenas na União ou na Petrobrás não, é no Brasil todo. Em 29, com muito menos, eclodiu a revolução de 30. Em 16, que ora finda, que monstros estarão sendo chocados para eclodir no futuro? Terá a nossa democracia capacidade para enfrentar este verdadeiro tsunami que vem por aí ? Recentemente, um voto muito suspeito do Ministro Marco Aurélio colocou o Supremo em papos de aranha, e logo depois, o Ministro Fux, também numa canetada isolada, repetiu a façanha: as duas canetadas deixaram o Congresso em polvorosa, no limite de um conflito aberto de poderes. O que se visa com isto? Não consigo imaginar que estes doutos Ministros não percebam todas as injunções do que fizeram – ou serão mesmo vítimas do mais estreito juridicismo ? Numa hora destas , não ter uma visão do todo, e onde se situa o interesse maior do país, é inconcebível. Mas como Deus é brasileiro, veio o recesso parlamentar e a tensão diminuiu. Será que todos aproveitarão o tempo para refletir?

Apesar de ser um assunto do passado, pessoalmente fui contra o impeachment da Dilma. E minha razão era simples: há coisas que se sabe como começa, mas não se sabe como acaba. Valeu a pena dar este golpe parlamentar, aplicado com eficiência e dentro da lei, do ponto de vista formal, mas absolutamente desnecessário para “salvar” o País? Lembro-me de 1964: o país tinha todos os instrumentos constitucionais para impedir que se implantasse a “república sindicalista” atribuída a João Goulart; deram o golpe: era para durar dois anos, no máximo. Durou vinte.

Os ânimos estão exaltados. Que não se perca o pano de fundo desta crise toda, que não se perca onde está o verdadeiro conflito que é simples: de um lado, o grande capital financeiro, querendo a sua parte, igual ao tamanho do rombo, mais ou menos; de outro, o povo, aflito, sabendo que vai pagar a conta. Resumindo a ópera: é preciso tirar água de pedra para garantir o lucro dos rentistas.

A situação é grave: de um lado, há que se eliminar o deficit, que empurra a inflação e os juros para cima, o que só se consegue através da eliminação de despesas, gerando uma situação recessiva; de outro, há que se preservar o emprego e os ganhos chamados de sociais, que exige uma política oposta. Como adequar esta equação?

O Governo Temer, dentro de sua visão, está fazendo a sua parte. É muito e é pouco. Do ponto de vista da eliminação do déficit, conseguiu o que parecia impossível: o governo não poderá gastar mais do que ganha nos próximos anos. Digo nos próximos porque considero impossível engessar o “gigante” por vinte anos, como se pretende. Se engessar cinco, estará para lá de bom. E, além disso, está enfrentando o problema da Previdência, que há muito vem sendo postergado. Há um desequilíbrio estrutural a ser saneado. A proposta está na mesa. Temos que convir que, em tão pouco tempo, e em condições tão adversas, não é pouco. Onde o Governo está deixando a desejar, e não é fácil resolver, é na questão de quem paga a conta. Aí a coisa está feia, e não há grande perspectivas no horizonte.

Sei que a posição do Governo é ingrata: pagar a dívida representa não sair do lugar; não pagar, fulmina o crédito.

Diante dos dilemas que teremos que enfrentar, com este governo ou qualquer outro, entendo que a solução só virá depois de 2018. Um Presidente eleito diretamente pelo povo e com a autoridade e representação política capaz de recolocar o Brasil no caminho de um desenvolvimento sustentável. E como fazer isto? Deixando de pensar em orçamento anual e elaborar, com as forças vivas da Nação, um plano plurianual de desenvolvimento, em que os orçamentos anuais sejam etapas de um processo maior, com objetivos táticos e estratégicos muito bem definidos, avalizado pelas urnas.

O problema é: chegaremos lá? Se houver comedimento e a compreensão do processo, sim; se agirmos sem considerar o interesse maior, não. Minha esperança para 2017 é que saibamos passar pela pinguela sem nos deixarmos desequilibrar pela vertiginosa corrente que corre sob os nossos pés. Este o sentido político para o Ano que está por vir.