FALECE O ESPÍRITO NATALINO CRISTÃO

FALECE O ESPÍRITO NATALINO CRISTÃO

Cada ano eu me lembro da homilia natalina ouvida há mais de cinquenta anos. Estávamos ainda, minha esposa e eu, no primeiro ano de casados, e nosso primogênito não demoraria a nascer. Morávamos, então, no Alto da Lapa, na Capital Bandeirante. Na véspera de Natal, à noite, fomos à missa na capela da Vila Hamburguesa. Ficava um pouco mais longe de casa, mas a estrada era plana, pois a esposa já sentia cansaço na subida forte da Rua Cerro Corá, para chegar à Igreja São João Bosco, aonde costumávamos ir domingueiramente.

A cerimônia simples não teria merecido um registro especial em minha mente, não fosse o sermão simples, alusivo à festa do dia seguinte, proferido pelo celebrante. Sem qualquer arroubo oratório, ele começou:

“Certa vez, um casal ofereceu uma grande festa aos familiares e amigos, pata comemorar o primeiro aniversário de seu filhinho. Era uma noite fria, e à medida que aumentava o calor das danças e do álcool, os convidados, homens e mulheres, moças e rapazes, se desfaziam dos casacos e paletós jogando-os sem cuidado sobre o berço em que dormia o aniversariante. No final da festa, quando os convidados já se tinham retirado todos, foram os pais ao berço do filhinho e o encontraram morto. Morreu asfixiado, o pobrezinho, sob o montão das roupas que jogaram sobre ele”.

“Nossa, que sermão triste!”, ouvi de várias mulheres mais próximas.

E o padre continuou:

“É triste realmente, mas é mesmo assim que está se tornando o nosso Natal. Todos os anos, Deus nos convida para o Santo Natal, que é a festa de aniversário de seu Filho. Mas os Papais Noéis, as preocupações com os preparativos, as expectativas com os presentes são as tantas roupas que continuamos a jogar sobre a manjedoura do Menino Jesus. Uma bela árvore enfeitada não pode faltar na sala, nem a farta ceia de natal com o tradicional peru assado sobre a mesa. Mas com o presépio no lar e no coração ninguém mais se preocupa! Desta forma, o Santo Natal está se tornando cada vez mais uma festa pagã. Pensem bem, meus irmãos, sobre esta triste realidade, e procure cada um corrigi-la no seu lar, na sua vida!”, concluiu o padre.