Solidão

Anteontem fui com amigos em um asilo para idosos, levar algumas doações. Fiquei impressionado com o que vi. Ou melhor, com o que não vi e com o que escutei.

Chegamos de surpresa, na hora do almoço, de modo que não o encontramos preparado para uma vista.

O asilo é daqueles para os menos favorecidos. Tudo é simples, mas limpinho, e até me pareceu confortável. Tinha quartos amplos, arejados e claros, com três camas e armários individuais. Penso mesmo que eram melhores do que alguns dos albergues em que pernoitei, quando percorri o Caminho de Compostela.

De logo me chamou a atenção o fato de não ver um só interno deitado em sua cama, ou alguma delas desarrumada. Nos disseram que tudo é planejado para manter o idoso constantemente ocupado, ou em companhia de outro, de modo a fomentar a interação entre eles.

O refeitório, estava sendo utilizado e me pareceu igualmente confortável e a comida com bom cheiro e aspecto. Em um dos pratos havia arroz, feijão, frango e legumes, mas percebi que nem todos comiam a mesma coisa. Necessidade de dietas diferentes, talvez.

O conjunto de prédios formava um "U", contando, além do refeitório e quartos, com salas de fisioterapia, jogos e trabalhos manuais, entre outras. Ao centro havia um pátio com frondosas árvores, um laguinho onde nadavam carpas vermelhas, brancas e douradas; bancos, onde alguns idosos estavam acomodados, e duas construções: uma capela ecumênica e a "casa da memória", onde se via diversos objetos antigos, úteis para reavivar as lembranças dos idosos.

Mas em todos os rostos daquelas pessoas só se notava tristeza e dor. Dor, não de sofrimento físico, mas dor na alma. Aquele olhar perdido, embaçado... Olhar de peixe em banca de mercado.

Nenhum deles, nenhum, respondeu aos nossos cumprimentos ou tentativa de diálogo. Nem um sorriso, nem um aceno, nem uma palavra.

Também não os vi conversando entre si. Vi ali criaturas que apesar se encontrarem vivendo sobre o mesmo teto eram absolutamente solitárias.

Eu desde cedo convivo com velhos e sei como é difícil a comunicação com eles. Já devia ter me acostumado com a solidão dos idosos. Mas não!

De todos os males da idade, a solidão talvez seja a que mais me toque e assuste, porque não é física.

Eu não suporto solidão, embora a preze em alguns momentos. Mas como não sou do tipo extrovertido, tenho medo de me tornar um velho solitário.

No asilo foi-nos dito que dos 70 internos, apenas uns 5 recebiam visitas com alguma frequência. Quanto aos demais, os laços familiares se haviam rompidos, seja porque nunca foram fortes, seja pela inexistência de parentes próximos ou amigos.

Isso me fez refletir sobre a importância de se zelar, o mais possível, pelo maior patrimônio que possuímos: o amor. Sim, o amor daqueles que nos são próximos, familiares e amigos. Pois só o amor dessas pessoas poderão impedir que o futuro nos torne solitários e, se um dia cairmos na solidão, somente as pessoas que nos amam poderão nos resgatar.

Não se esqueça nunca que só se colhe o que se planta. Portanto, amigo, viva no amor e afaste a solidão.

Hegler Horta
Enviado por Hegler Horta em 24/12/2016
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