Missa do Galo

Toda noite de Natal, há mais de 40 anos - e hoje não será diferente - leio o conto de Machado de Assis, Missa do Galo. Faz parte do meu ritual natalino. Acho que é um clássico do Bruxo de Cosme Velho. Detalhe: o conto fascina pelo clima de erotismo. O grande contista não explicita, ele insinua de forma subliminar, deixando o leitor sentir e participar desse clima. É arretado.

Além de ler o conto, também dou uma passada em alguma igrejinha ou pracinha de bairro afastado, onde houver uma Lapinha artesanal, sem efeitos especiais, para admirar e sentir o verdadeiro sentido do Natal. É claro que também participo da Ceia do Natal, mas das iguarias só sinto o cheiro, vejo com os óios e lambo com a testa, belisco apenas umas folhinhas e tomo meio copo de vinho.

Antigamente gostava de assistir à Missa do Galo, na praça, era um grande espetáculo de fé, mas hoje a praça é usada apenas para as festas de massa com aquelas bandas fuleiras.

Não era católico mas gostava de ver s fé do povo revivendo nas palavras do padre o Nascimento do Menino Jesus. Adorava quando o prefador era o padre Siqueira, o maior orador sacro que conheci. Mudou o Natal virou parte de um feriadão, não há mais aquela magia santa. Por isso, depois da ceia sento na velha cadeira de balanço rangedeira e fico rememorando os natais de antigamente, sobretudo a fe do povo na Missa do Galo e, aí, lembro um trecho de uma crônica do Professor Potiguar Matos que resume toda a beleza da missa ao ar livre:

"Alguma coisa grande ia acontecer. Não sabíamos direito, mas era a história de um Menino que nascia, de uma estrela caminhando no infinito, de homens maus e homens bons, de carneiro, lã, camponeses, Maria. O padre alçava os braços. Todo o céu constelado se esmagava no topo das serras, cintilava em ouro e prata, florescia nos longes da madrugada. Crianças dormiam. A paz dos anjos havia tocado a terra. Era simples e belo". Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 24/12/2016
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