Os finais e as comedias românticas....

Esse texto é uma reflexão do dia.. Das leituras, da vida.. e sobretudo das angústias antes de dormir. Nem sempre se faz poesia, mas certamente, sempre que se toma uma decisão, é certo que a poesia chega. E, bem... o texto fala por si mesmo, Beijos.

Os finais e as comédias românticas...

Quando acaba uma comédia romântica eu sempre fico procurando pra quem correr.... Dá uma sensação de que tudo se embaralha, mas no final as pessoas se ajeitam, se confortam, se amam de verdade. E o amor é uma arma poderosíssima contra o fato de estar sozinho. Então, quando eu percebo que estou só - denovo - vem aquela sensação vazia. É quase um arrependimento de não ter me casado, nenhuma das vezes que eu realmente quis. Mas será que eu quis mesmo?!?!

Eu sempre fui avessa a uniões estáveis, a namoros duradouros... a amores eternos, que eu sempre imaginei que não existissem. Sempre tive medo demais de deixar o meu lado manteiga derretida se declarar em paz. E essa coisa de gostar é tão agressiva... Isso porque perder o controle de tudo parece castigante. Perder o controle de si mesma?!?

Quando acaba uma comédia romântica eu percebo como nunca tive controle sobre mim mesma. Porque se tivesse, certamente não teria ficado gorda aos 23 anos... com um rosto lindo e uma cabeça poética. Se tivesse, certamente não teria deixado tanta gente ir embora sem se despedir... nem tampouco eu teria ido embora de mim.. aos 23 anos.

É curioso me sentir velha aos 23 anos. É curioso mais ainda essa sensação de calmaria inquieta que me atormenta. Tudo ficará bem, eu sei, exceto pelo fato de que não está. Nem estará, sobreamente. Há uma névoa que me distrai dos focos diretos. Há mais ainda uma claridade que me revela os detalhes que deveriam estar esquecidos, em pedaços doloridos de dia.

As comédias românticas me lembram o quanto sou fracassada no trato pessoal, me lembram como é difícil pertencer a um homem, que não é príncipe, querendo que ele viva em um conto de fadas. A vida não pertence a um conto de fadas. A vida se aborrece, com contas de água e luz atrasadas. Os olhos tremem, porque muitas vezes nõa sabemos nem o sobrenome das pessoas que admiramos porque são simples. Passamos a vida inteira aprendendo a ler e a escrever, quando na maior parte do tempo seremos fatalmente levados a ouvir. E nem sempre ouvimos atentamente. E nem sempre amamos com ações, com comportamentos que levam o outro a estar certo de que é realmente amado, porque abrimos mão dos nossos egoísmos em prol da felicidade dele. Em busca de um sonho...

Na verdade o amor é uma conquista, lenta e gradativa... Uma conquista que denota prós e contras. O problema é que muitas vezes por amar demais os nossos débitos ultrapassam os limites especiais da tolerância dos outros. E consertar uma barbaridade requer muito mais esforço e tempo. Salvar um casamento, namoro, amizade; é como um bombeiro que entra num prédio em chamas. Não se sabe ao certo se uma das vigas que sustenta o prédio vai nos ceifar a vida. Naquela hora o importante é salvar... nem que pra isso seja preciso doar-se com a máxima da vida. Há alguém cuja vida depende de um único ato heróico. E essa pessoa tem plena certeza de que quando o incêndio for apagado, tudo e todos estarão a salvo, porque confia. Pode ser que os resultados não obedeçam à ordem natural das coisas, mas precisamos acreditar naquele desfecho pra nos mantermos vivos. E nessa hora o bombeiro é aquele capaz de atravessar uma parede pra salvar uma pessoa. É justamente nessas horas incertas que eu me pergunto: haveria alguém por quem eu atravessaria uma parede, porque esta pessoa confia em mim? OU porque eu confio nela?!?! Egoisticamente percebo que pelo meu desfecho natural eu gostaria mesmo é que atravessassem uma parede por mim... E que o resto fosse apenas um prédio com resquícios de fumaça.

Acontece que amor é confiança.. e confiança é uma conquista. E quando acaba a comédia romântica me lembro de que se por um lado tanta coisa foi adquirida, onde estão as minhas conquistas?!?

Ainda há tempo de salvar meus relacionamentos falidos. As pessoas com quem evito falar por mágoa, as culpas que carrego por vergonha de pedir desculpas. As pessoas que nem mesmo conheci porque achei alguma coisa, antes que se apresentassem plenamente enquanto almas.. enquanto humanos. Os homens que não se aproximaram, simplesmente porque tive medo de que me amassem. Porque, friamente, descobri aos 23 anos que sou uma frustrada em relacionamentos pessoais, já que não confio em ninguém, nem quero ser levada a isso - por medo de sofrer, ou de lidar com meus próprios medos.

Ao final da comédia romântica de hoje... pode ser que haja um final. Mas certamente... há de haver um começo.