Tanquinho

Fui nadar como tenho feito nos últimos quatro meses da minha vida não mais sedentária. Andei vários metros, ao cubo, para chegar até a academia a qual venho indo durante os últimos tempos. Cheguei e me troquei bem rapidinho, porém sem pressa alguma, pois eu tinha vindo para a “AULA LIVRE”, ou seja, “SEM CONSTRANGIMENTOS EM FRENTE AOS PROFESSORES PELA MINHA FALTA DE CORDENAÇÃO MONOTORA”.

Ótimo! Agora já de toquinha, óculos e tudo mais, peguei alguns instrumentos aquáticos fingindo ter plena confiança no que estava fazendo. “Tchibum”. Cai na água e fui abraçada por exemplares quentinhos daquele elemento químico, formado por duas moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio, recheados dessa coisa menos que microscópica chamada átomo. Se bem que deveria ter bastante cloro naquela água, mas deste eu não sei bem a fórmula então deixa quieto.

Que maravilha! Então lá fui eu fazer uma série de chegadas no crawl, só para começar. Essa coisa de não ter nenhum professor me olhando e analisando tudo, era simplesmente maravilhosa, me dava liberdade e até me fazia treinar melhor. Justamente, a palavra era liberdade. Mas então deu o horário da aula dos pequenos, bem na piscina da frente e com tal combinação dos ponteiros no relógio veio o professor...

Sim Brasil, o professor. Aparentemente a pessoa mais jovem que eu vi dentro daquelas horas. Alguém que não chamaria minha atenção, e não o fez até que... Tirou a camisa. A aula das crianças é algo simples eu presumo que funciona como uma creche, estabelecimento escolar que abriga, mas ali eles também aprendem a nadar.

Então quem ensina não precisa entrar na água, só fica ao redor da piscina dando um apoio moral e brincando com os pequeninos. Mas o cara para isso, e só isso, exibiu seu tanquinho definido e me roubou a preciosa concentração conquistada com muito suor. O que era aquilo!? Sem brincadeira era tão arrumadinho que parecia de porcelana e aquela pele morena... Me deu até uma motivação para ir e vir na piscina. Ir, ir e ir.

Ele logo foi embora. Eu terminei o treino. Me duchei, me troquei e me levei para casa pelo caminho de sempre, com as pernas no automático, um passo depois do outro, um após o outro, um em seguida do outro. E justamente isso me deu tempo para pensar no ocorrido, filosofar e ponderar.

É engraçado como as pessoas se esbaldam muito facilmente em pré-julgamentos baseados puramente na beleza corpórea, ou na simples beleza, do outro. Ouso dizer que é algo triste, tão fúnebre quanto fútil. O fato de se ter um belo peitoral, não faz de nenhum ser humano alguém mais interessante, o que o tanquinho ou a falta dele falam sobre o caráter?

Esse meu episódio, é claro, não passou de um simples e fugaz momento de admiração, afinal não sou um robô. Mas é interessante perceber como nós humanos podemos funcionar dentro da nossa nojeira em determinados momentos, todos da existência na verdade. Enfim cheguei em casa, na lavanderia, no tanque e deixei por um instante minhas vestes de banho molhadas lá. E vi ali algumas outras roupas que me esperavam quietinhas, para serem belamente esfregadas no tanquinho.

LizaBennet
Enviado por LizaBennet em 28/12/2016
Reeditado em 29/12/2016
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