A foto não revelada

A foto não revelada

Sempre fui admirador da arte de fotografar. Gosto mesmo.

No tempo das máquinas fotográficas, hoje nem tanto. Hoje são máquinas digitais, sem graça, muita tecnologia. Bate a foto, não gostou deleta. Bom mesmo era comprar um filme, não esses de cinema ou televisão. Filme era uma película que tinha uma camada de produtos químicos, que exposta a luz, gravava a imagem projetada nela. (Puxa, escrever sobre coisas do passado dá trabalho). Quem tem menos de quarenta não sabe o que é isso. Depois de “bater” as fotos, levava o filme para revelar, que quer dizer, colocar o tal filme em uma solução química para transformá-lo num negativo e daí reproduzir as fotografias e imprimir, tudo isso num quarto escuro. Só recebíamos as fotos, ansiosamente esperadas, após sete dias.

Pois bem, tinha um passeio marcado para João Pessoa e para registrar os momentos, adquiri uma máquina da marca Olimpus, moderna. Ela duplicava o número de fotografias, mais uma vez explico: Não era como hoje, que se bate infinitas fotos até acabar a memória. Comprava-se o filme com a quantidade de fotos que se queria. Por exemplo: 12, 18 e 36 fotos. Essa máquina duplicava. Tinha também o número de ASAs que nunca entendi direito pra que servia, só sabia que quanto maior melhor, 100, 250, 400. Comprei um filme de doze, pois quanto mais fotos mais caro era a revelação, já que pagava-se por foto e o filme era colorido, novidade na época.

Partimos para João Pessoa, eu, minha esposa e uma cunhada. E tome pose, e tome fotos. Eu me agachava para pegar um ângulo melhor, elas faziam caras e bocas como modelos, até acabar o filme. Registrei a estátua de João Pessoa, o museu Sacro que ainda hoje existe, tudo com as duas à frente.

Ao voltar para Recife, imediatamente mandei revelar, numa loja da Kodak, na Rua Martins Júnior e prometeram entregar sete dias após. Passados os sete dias, de manhãzinha, lá fui eu buscar as fotos. Qual não foi minha surpresa quando o atendente disse que não tinha nenhuma foto tirada. O filme estava virgem. Virgem, naquele tempo eu só conhecia as moças, que ainda existiam, hoje tá mais difícil, mas deixa pra lá, o assunto é outro. Filme virgem era o filme que não havia sido exposto a luz e após o processo de revelação, nenhuma foto é revelada. Estranhei. Disse que a máquina era nova, era a primeira vez que usava, não podia estar quebrada. Ele então pegou uma máquina igual a minha e manuseando me disse: chegando em casa abra o compartimento onde se coloca o filme, e fez para eu ver. Pressione o botão do obturador e veja se aquelas lâminas se abrem deixando entrar a luz. Aí foi que percebi que ele havia tirado uma tampa plástica que protegia a lente e eu desgraçadamente não tinha atentado para esse pequeno detalhe.

Ainda hoje guardo na memória, na minha, a foto que nunca foi revelada, com minha esposa do lado direito, com a mão direita na cintura, como uma asa de xícara, e a mão esquerda enlaçando a cintura de minha cunhada, que por sua vez, com a mão direita enlaçava a cintura dela e com a mão esquerda, em posição de asa de xícara, também, estava na cintura. As duas com as cabeças juntinhas como um castiçal, tendo ao fundo a igreja que ainda hoje serve de Museu em João Pessoa.

Massilon Gomes
Enviado por Massilon Gomes em 09/01/2017
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