O Presidente Bonachão... e o Burrinho Falastrão

Certo presidente bonachão, que muito gostava de viajar, estava curtindo umas feriazinhas em um lugar chamado: sertão de Sorocó – quando, dizem as más línguas – deu-se o encontro que doravante passo a relatar.

O sol estava a pino e a temperatura perto dos cinqüenta graus. A vegetação encontrava-se recoberta de poeira e o solo – dada à falta de umidade – mostrava uma cara enrugada. Um “asno”, de aspecto vulgarmente comum, descansava tranqüilamente a meia sombra de um arbusto, ignorando totalmente o desconforto da estalagem.

De repente, quase que meio quebrando a harmonia agreste daquele cenário –aparentemente hilário – vislumbra-se a figura esguia do Presidente da República, dos Fanfarrões – ladeado de seus sinistros. Quero dizer! (...) Ministros.

“Não seria, também, republica dos Camarões?”

“Não! (...) Camarão inteligente, não nada nessa praia.”

O homem de aspecto culto, com fama de sociólogo e intelectual, aproximasse vagarosamente do descansado “asninho”. Duvidando de sua suposta tranqüilidade, à sombra do ressequido arbusto – tasca-lhe intempestiva interrogação:

– Como podes ó ineducável quadrúpede ruminante? (...) Primo de bestas, mulos e jericos (...) descansar assim, tão calmamente, em meio à sequidão assoladora que permeia essas terras, causticantemente castigadas pelo sol? – Perguntou o Chefe de Estado.

– Responder-te-ei, excelência! (...) Isso se primeiro decifrar-me – utilizando-se de toda vossa sapiência – um pequeno apótema que agora te proponho... – quando é que a vida do homem é menor que a sua existência? Perguntou o “burrinho.

– Quando é que (...), o quê? Gaguejou o presidente. – Não sei não! (...) Responde-me tu, ó energúmeno falante!

– Quando o homem – que existe – vive só para si! – Respondeu o burrinho, tentando passar uma lição de altruísmo ao Chefe de Estado. – Quanto a minha obliteraria tranqüilidade em meio à tamanha secura, foi só uma questão de adequação. Falou.

– Quer dizer, que você se adaptou a viver a sombra desse arbusto, mesmo sabendo haver jeito melhor de se viver?

– Não excelência! (...) Não é bem assim! (...) Minha adaptação foi-me imposta, sem direito de escolha. Respondeu o burrico.

– Como assim? (...) Impuseram-te, contra a tua vontade, viver a meia sombra deste ressequido arbusto? Indagou o Presidente.

– Não, Excelência! (...) É que sendo eu, burro, (descendente ignóbil de bestas portuguesas, mulas francesas e sofrendo influencias de outros “jericos” da escoria européia) trago sobre mim a ignorância hierárquica de minha família – e não pude eleger-me a presidente. – Postulou o “burrinho”, pondo fim a conversa.

Moral da história:

Num país, onde o flagelo esconde ao povo,

o direito de apelo (...) um burro não pode ser presidente.

Mas um presidente – às vezes – pode fazer todo mundo de burro.

Escrito quando ele apenas tentava (...) Tentava (...) e tentava (...)