Eu, Humano.
Sei que preciso de uma cura espiritual, que precisarei, mesmo que ancião e prestes e desnudar-me da roupagem humana, de uma cura imediata e que só pode vir da força de vontade minha, personalíssima!
Medicamentos são besteiras! Encher a cara é besteira! O entorpecimento mor vem do âmago! Busca-o!
Sei também que o mover de qualquer músculo em qualquer situação faz a diferença e que um passo à frente já não estarei no mesmo verbo, no mesmo tempo, no mesmo lugar. Um flexionar de joelhos, talvez, valha mais do que mil dores de inércia! A força dos primeiros hominídeos nômades fez toda essa porra de civilização. Não pense que a cabeça aguenta se você parar!
Tirando as guerras, a fome, as catástrofes, doenças, covardias e misérias, no mais até que estamos bem na sobrevivência terrestre, já que há aproximados 200 mil anos pisoteamos este Globo!
Parabéns a nós humanos! Somos pragas vorazes! Vencedores! Devastamos mesmo! Somos foda! Antes Chimpanzés!
Ei, ou, vida de gado! Só é feliz o povo chapado! Os que pensam racionalmente, vivem racionalmente, comem pão com manteiga e tomam café, arroz, feijão e ouvem axé, esse povo que puxa saco de político, que assiste jornal nacional e novela das dez, esse povo, esse povo marcado e que se diz feliz, esse povo é doido!
Nas periferias do Condado do Bonx, ou "The Bonx", Nova Iorque, em janeiro de 1987, vi além das cores das casas e das pessoas transitando pelas calçadas, quase que despercebidas, feito almas rápidas e desesperadas... Percebi que a vida era aquilo mesmo, aquele sol com chuva, o dia a dia instantâneo e instável, com cada um como partícula individual do todo se agarrando à vida sem saída... Mesmo sem unhas ou dentes, mesmo sem a mínima esperança sequer, se agarrando à vida como se agarra um punhado de areia nas mãos...