O PEDINTE

O Homem caminhava poucos passos a minha frente.

Chamou-me a atenção a falta do antebraço direito.

O Homem parou defronte a escadaria da Igreja, estendendo o olhar para seu topo.

Instintivamente, também parei.

Quem sabe colheria um flash do cotidiano.

Sentar-se-ia a esmolar ou entraria para orar?

No topo da escadaria de uns quinze ou vinte degraus surgiu a Moça. Jovem, calças brancas, justas, saindo da Igreja.

Ah! Que pecados teria confessado, arguiram meus diabinhos.

A Moça desce, desfilando.

Concluo que nada incomum sairia da cena e retomo meu caminhar... Lento...

Passo pelo Homem de olhar fixo na escadaria.

A Moça termina a descida, tomando o mesmo sentido que eu.

“Que gostosa!”, ouve-se murmurante.

Paramos...

A Moça, eu e o mundo...

Quase em estado de choque.

A Moça procura a origem...

Olha para o Homem...

Olha para mim, com um sorriso desaprovador.

Mundo saindo do choque...

A Moça acelera o passo...

Demoro uns segundos...

Suficientes e necessários para ver o Homem sentar-se na escadaria e começar seu ofício, tilintando uma latinha de moeda, com o braço completo...

No topo da escada, surgem duas Senhoras.

O Homem estende o braço, olhar súplice...

“Uma moedinha”, murmura doloroso à passagem delas.

Diabinhos matutam: “O que o Homem teria falado fossem as Senhoras vinte anos mais jovens?”

Seguem a mesma direção da Moça...

Ah! A Moça...

Sumira na multidão...

Vida que segue...

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 12/01/2017
Reeditado em 12/01/2017
Código do texto: T5879706
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