Esse bicho da saudade

Hoje acordei com saudades de nós dois. Acordei, não, porque nem dormi. Fiquei lá, virando madrugada, remoendo fatos, digerindo fotos, tocando o passado, os presentes, as joias de plastico, o anel de arame, o coelhinho amarelo e todas as promessas chamuscadas de três anos atrás. E não chorei. Dessa vez não. Pra ser sincera, não choro por você há meses.

Mas tem essa saudade, essa doce vaidade, que entrelaça nos dedos, corre por veias, artérias e nervos e me tira o sono. Aí eu cheiro a sua camisa velha, aquela que você deixou pra trás dizendo “fica pra você. Era a sua preferida”. Sem entender que era a minha preferida, sim, mas em você. Agora é só um pano desbotado que nem tem mais o seu perfume, só cheira a saudade. Pois é. Hoje acordei com saudades de você, do aroma engraçado do seu cabelo lavado, dos cravos das suas costas, dos seus dentes separados, da voz aguda de nervoso, do beijo encaixado.

Acordei sentindo falta de ter você do lado, da firmeza do seu peito magro, dos poucos pelos que te faziam ódio. Acordei sentindo falta de ser sua um pouco mais. Mas… Sabe como é… A vida continua, a roda gira e você não tem mais dezessete anos, não é inseguro, não treme ao tocar sua nova namorada, nem se sente nervoso por ela ser “bonita demais pra você”. Hoje você é um homem feito de sonhos diferentes, com alguém diferente. E eu fico feliz por você estar feliz.

Ah, não se engane, eu também estou feliz. Tive muitos casos, muitos beijos, muitos braços desde que você bateu a porta pela última vez. Só que hoje acordei com saudades. Não quero você de volta, não pretendo atrapalhar seu novo amor que é tão bonito e sincero. Não espero mais você voltar, perceber que errou em se precipitar tanto num relacionamento sério sem nem deixar o nosso esfriar. Não sonho mais com você e nem choro até dormir. Não desejo você e não seria feliz se voltasse.

É que hoje, especificamente hoje, senti saudades de nós.