Sobre Saudade...

     Dia destes, revirando as páginas do tempo através de velharias empoeiradas, fechadas num pequeno diário de capa marrom, senti muitas saudades! Sentado confortavelmente em minha cadeira de área, comecei a revirar as páginas da minha história e por mais uma vez tive um contato intenso com quem realmente sou!

     Passei um olhar rápido pelos artigos e crônicas que escrevi, as homenagens que recebi, os personagens que entrevistei como radialista! Busquei num tempo já distante os Sambas de Enredo que compus e cantei no grande carro de som nas noites de Carnaval em Porto Feliz, Boituva, Iperó, Salto, Tietê e Cerquilho! Lembrei-me das viagens que já fiz, as pessoas que conheci e os poemas que escrevi! Lembrei-me dos livros que participei e das noites de autógrafos, e do orgulho por participar de algo tão grandioso e audacioso!

     Dentre todas estas boas lembranças, deparei-me, num dos livros, com um autógrafo especial que me fez voltar no tempo... Lembrei-me de meu pai, com seu olhar vivo, orgulhoso, pedindo-me o autógrafo num dos poemas daquele livro de capa amarela! Lembrei-me do agradecimento e do olhar singelo, e, neste instante foi impossivel não me lembrar da infância linda que tivemos eu e minhas irmãs ao lado de pessoas tão especiais e puras.

     Trabalhava duro para nos dar o que podia, e o fazia com desprendimento suficiente para sempre sorrir perante às adversidades da vida. Neste olhar, acordava cedo, tomava seu café ouvindo a Super Rádio Tupi, da qual era fã incondicional. Logo eu e minha irmã levantávamos também para encarar mais um dia de estudos na gloriosa Escola Coronel Esmédio.

     Lembranças boas de quem faz falta sempre. É impossível não me ver perguntando, vez ou outra, como meu pai agiria em determinadas situações, principalmente quando decisões que influenciam diretamente na vida de outras pessoas precisam ser tomadas para um bem maior. Paro, reflito, tento olhar sob seu singelo ponto de vista e apenas depois acabo decidindo.

     No mundo atual onde nossos ícones não representam exatamente o melhor exemplo a ser seguido, sejam eles escritores, atores, cantores ou outros “heróis” ditados pela mídia, acabamos nos esquecendo daqueles que nos nortearam pela vida com seus verdadeiros exemplos de humildade, desprendimento e dedicação. Acabamos nos esquecendo de que nossa construção moral e ética foi solidificada sob alicerces fortes, de pessoas fortes, com envergadura de caráter incontestável. Estes sim, representam nossos verdadeiros exemplos, e devem ser cultuados no altar da nossa consciência. No meu altar sempre existirá a imagem singela daquele homem que adorava Cauby Peixoto e pintava paredes como ninguém.

     Ah, quanta falta faz, não apenas a mim, mas às minhas irmãs e à sua maior companheira de muitas décadas! Quantas coisas queríamos ter-lhe dito! Quantos abraços perdemos de lhe dar! O tempo é cruel... Chega-se manso, paciente, e sem que a gente perceba nos tira, de súbito, as pessoas que nos são mais caras! É por isso que hoje não economizo alma! Amo intensamente, vivo intensamente, e busco corrigir meus erros, não errando mais! Meu amor é sincero, puro, inocente! Fica a saudade, demonstrada pelas lágrimas e consolidada nas certezas do filho que fui e do pai que me tornei...