HISTÓRIAS DA MINHA TERRA: A HECATOMBE
EPISÓDIO FINAL: A MATANÇA
 
“Não derramarei uma só lágrima enquanto todos os inimigos políticos do meu marido não estiverem mortos!”  Jurou Ana Duperron, viúva do coronel Júlio Brasileiro, a todos os que foram a sua casa naquelas primeiras horas da manhã de 15/01/1917.
O histerismo era grande e de fora se ouvia, por quem quisesse, as juras de vinganças que eram proferidas pelos parentes e amigos da vítima. Alguns dos ilustres da cidade se encontravam em apoio à família naquela hora de desespero: o juiz Abreu e Lima, o promotor João Pacífico dos Santos, o delegado Tenente Meira Lima, o padre Benigno Lira, dentre outros.  Todos foram testemunhas do plano macabro que estava sendo arquitetado dentro daquelas paredes, não obstante, o padre se opor ao que planejavam. A família do coronel não acreditava que Sales agira sozinho. Estava certo que ele estava sob o comando dos políticos que faziam oposição a Júlio Brasileiro e por isso todos deveriam morrer. Logo a notícia dessa macabra artimanha se espalhou por toda a cidade e, receosos, os chefes políticos oposicionistas buscavam se esconder, uma vez que era sabido que vários jagunços e cangaceiros estavam sendo recrutados, principalmente de Brejão, reduto do coronel. Havia o medo de cruzar com eles pelas estradas, razão pela qual resolveram se esconder na cidade mesmo. Com o passar das horas, a tensão foi aumentando. As ruas eram tomadas por bandoleiros que gritavam, praguejavam e ameaçavam todos os inimigos do morto além de outros que partiam a procura dos mesmos em seus comércios, atirando nas portas, janelas e paredes. Enquanto isso, dentro da casa, o plano sinistro ia tomando forma: reunir todos os inimigos dentro da cadeia com o pretexto de que somente lá o delegado poderia oferecer garantias de vida, uma vez que o número de soldados era insuficiente para segurança em locais diversos, caso as vítimas permanecessem escondidas.” E foi assim que com a presença do delegado, o juiz e o vigário, reforçando a promessa de garantias, aqueles que já se encontravam escondidos ou ao ponto de fuga, alguns meios a contragosto, resolveram ceder e aceitar os argumentos de pessoas tão benquistas na sociedade e seguiram para a cadeia. Com medo da chegada do reforço policial que soubera estar vindo da capital, a viúva ordena o ataque.  Era cerca de 15:30h quando os cangaceiros saíram da casa em direção a cadeia pública. Havia uns 400 bandidos pelas ruas da cidade e o clima cada vez mais dramático. Poucos minutos antes do ataque o delegado se ausenta da cadeia na justificativa de ir socorrer o juiz que estava se sentindo “ameaçado”. Ficaram somente quatro sentinelas e com pouquíssimas munições, uma vez que o delegado ordenara que retirassem os estoques de balas da cadeia. O jagunço Vicentão se aproxima da porta aonde o cabo Cobrinha se encontra de guarda e diz: “Não temos nada contra vocês. Voltem para suas esposas e filhos.” Pelo que o cabo respondeu: “Só entram aqui passando por cima do meu cadáver.” Vicentão dispara sua arma e o cabo também antes de cair. Os dois são os primeiros a morrer. Um dos cangaceiros, por uma escada, acessa uma entrada no teto da cadeia e de lá começa a disparar. Outros guardas tombam à frente do prédio e o bando invade a cadeia. A carnificina começa. Balas, coronhadas, esmagamentos de crânios, dedos decepados. Ao término, 15 mortos e vários feridos. O horror daquela tarde perdurará por longos anos; o grito de dor, medo e morte ecoará ainda por muito tempo na mente daqueles que foram testemunhas deste lamentável acontecimento. Ao fim do julgamento que se estabelecera, apenas cangaceiros e outros de pequena expressão foram condenados. Os arquitetos intelectuais do sinistro plano foram todos inocentados. Suas posições de destaque na sociedade não permitir-lhes-iam a condenação... E assim a cidade seguiu o seu curso de maneira triste e sombria, levando muito tempo para a normalidade.

Publicações a respeito:

SANTOS, Mário Márcio de Almeida, Anatomia de uma tragédia: a hecatombe de Garanhuns-Recife, CEPE 1992.

CAVALCANTI, Alfredo Leite, História de Garanhuns, 2ª edição, biblioteca pernambucana de história municipal,18, Centro de Estudos de História Municipal, 1997, Recife-PE;

VIEIRA, David Gueiros, História da família Gueiros, Brasília, 1ª edição, 2008. 622 p.


JORNAIS
A noite, Diário do Povo, Diário de Pernambuco
dentre outros.
Maurício Pais
Enviado por Maurício Pais em 15/01/2017
Reeditado em 13/08/2017
Código do texto: T5883131
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.