Quem procura acha!

Esses dias, realizei os exames anuais da Medicina do Trabalho. Sim, eu sei, todo mundo sabe, que a gente precisa cuidar da saúde. Porque é o que tem pra hoje, e para os próximos dias, meses ou anos, nesta perpétua contagem regressiva que deixa no suspense sobre quando vai acabar. Aliás, a percepção que a gente tem da passagem do tempo é diretamente proporcional à quantidade de exames que são solicitados. Se apareceu mais um exame pra fazer, é porque a gente já tem uns cinco anos a mais do que se lembrava!

Aos vinte anos, basta um hemograma completo e o infame xixi-no-potinho. (A propósito, são só os jovens que têm flexibilidade e coordenação suficientes para fazer essa verdadeira ginástica!) Já ali pelos trinta é quando começam a pedir testes de glicose e colesterol. A gente sabe que passou dos quarenta quando vem a pavorosa mamografia (aquele tal de aperta e amassa e esmaga – ugh!), e para os homens, o temido exame da próstata (que é feito com anestesia, mas ainda assim mete medo neles). Depois dos cinquenta, aí já viu: a cada ano surge uma novidade, e a gente vai descobrindo cada item do cardápio de exames dos convênios.

Mas eu ainda estou jovem demais para isso tudo... Nem tenho cabelos brancos. (Eu acho, não verifiquei ainda hoje... Cadê a tintura que estava aqui?) É bem verdade que, nos últimos anos, o meu peso fechou o dia em alta mais vezes que o dólar. E que o adorável número 42 dos meus jeans foi crescendo e crescendo até o 46... (Aliás, esses caras que inventaram a numeração das roupas poderiam usar fraçõezinhas, né? A gente passaria do 42,0 para 42,1, depois 42,2... 42,3 e tal, coisa que, arredondando, continuaria 42.) E o tal IMC? Pega o peso, a altura, multiplica, divide, eleva ao quadrado. Ah vá! Inventem algo mais simples! Se não me engano, foi o Einstein quem já demonstrou que todo o espaço em todo o Universo é cheio de curvas. Por que euzinha não seria? Estou apenas seguindo uma Lei da Natureza!

“Exercícios”? Faço. Sim, claro que faço. Diariamente! Halterocopismo, Levantamento de Garfo, Maratona de Filmes e Séries, Caminhada Rústica Ida-e-volta entre a TV e a Geladeira, e finalizo o treino diário com a prática de Sono de Longa Duração. Até me admiro que essas incríveis modalidades não estejam nas Olimpíadas...! “Dieta”? Sei também. É aquela coisa que as pessoas começam na segunda... e terminam na terça! A única parte boa disso é a “preparação”: o fim-de-semana anterior, que é a hora de “chutar o balde”, “meter o pé na jaca”, fazer a festa-kerb de “Despedida de Gordice”.

Alguém já disse que, na velhice, vamos sentir arrependimento somente por nossas omissões. Como, então, que eu poderia deixar de comer, por exemplo, este precioso, magnífico, espetacular docinho de ameixa com fios de ovos e calda de caramelo? Não mesmo! Olha só pra ele! Que primor da culinária! Que obra-prima da gastronomia! Chega a ser poético.

E agora vou conferir os resultados dos exames. A-do-ro esse momento! É tão bom a gente poder verificar que a nossa máquina não está dando oficina! Poder apreciar a beleza que existe na regularidade dos numerozinhos todos dentro dos intervalos de valores dados pela palavra mágica “Normal”! Tão lindo, tão suave, tão tranquilizador! Ver isso traz uma paz, um sentimento de gratidão, uma sensação de comunhão com o Cosmos... Então vejamos...

Quê?!? Mas que coisa é esta fora dos padrões?... Tri-gli-ce-rí-dios!?!

Desisti do docinho.