Certo e errado

A linha que separa o certo do errado é quase invisível. O conceito básico é diferente para cada ser humano individualmente, ou seja, nem tudo que é errado para mim, é errado para você. São os nossos conceitos morais formulados durante a vida que nos levam formar as duas colunas separando aquilo que consideramos certo e aquilo que consideramos errado nos seus respectivos lugares.

Se analisarmos, por exemplo, o pensamento filosófico de Immanuel Kant de que tudo aquilo que tenha ligação com a sua vida e que não tenha influência na vida de outro individuo pode ser certo, pois para ele o pensamento da maioria, só por ser da maioria, não pode ditar regras de individuo. É um pensamento interessante, é quase como o ditado “Teu direito vai até onde começa o direito do outro”. Pena que isso é impossível.

Tudo o que você faz tem influencia na vida de alguém. O mundo por si só é uma teia interligada, onde cada movimento de cada individuo tem poder sobre a vida de outro. É absolutamente impossível você isolar as suas atitudes ao ponto dela não ter poder de exercer qualquer ação sobre os outros.

Cada escolha que você faz na vida tem influencia direta ou indiretamente na vida de alguém, mesmo quando você nem percebe que isso está acontecendo. O certo e o errado então é um conceito individual para cada um, por isso, nós, seres humanos, civilizados e desenvolvidos, criamos leis que sejam capazes de ditar preceitos pelo quais devemos nos basear. É a necessidade de se criar a filosofia de certo e errado, que nos organiza como sociedade e nos permite vivermos num preceito uniforme, caso contrário o mundo seria uma bagunça que esbarraria sempre no padrão moral de cada um.

Baseado em nossos conceitos de certo e errado precisamos traçar os caminhos que sejam capazes de nos fazer evoluir, pois, a evolução é o único caminho para o desenvolvimento da nossa espécie e assim, uma vez mais, esbarramos em nossos conceitos de certo e errado, afinal o quê era errado ontem, pode ser certo hoje e o que era certo hoje pode ser errado amanhã.

Houve um tempo em que o ser humano morava em cavernas. Houve um tempo em que um ser humano escravizava o outro como animal e tudo isso, parecia normal, ou seja, errado ou certo, a humanidade tem que evoluir para conseguir entender e criar mecanismos que sejam capazes de direcionar os passos coletivos da humanidade como sociedade.

Até pouco tempo atrás era permitido que um homem se cassasse com uma criança de 13 anos. Até o século de XIX se uma mulher chegasse aos 18 anos ainda solteira já era considerada titia. Você hoje, com mais de trinta, fica sentada no seu sofá pensando que está muito jovem para se casar. Pois é. O que é certo ou errado é um conceito que precisa evoluir, pois é através dele que direcionaremos os nossos passos para o futuro.

O escritor Oscar Wilde escreveu: “O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação.” É uma frase forte, pura e verdadeira. Voltando aos exemplos que citei, se os intelectuais não tivessem alimentado o descontentamento com a escravidão, e mais do que isso, se os poderosos não tivessem criado um descontentamento com o governo brasileiro, principalmente no período de regência de D. Pedro de Alcântara, e assim necessitado dos seus escravos para lutar as guerras e revoluções da época, é bem possível que a escravidão ainda fosse uma realidade comum. Desprezível, condenável mas legal. Se as mulheres não tivessem desenvolvido a agricultura as margens do Nilo, talvez, ainda se abrigasse em cavernas e vivêssemos da caça.

Se as mulheres não tivessem alimentado seus descontentamentos com as suas situações de hiper- dependência e tratamento de inferioridade que lhes eram impostas, ainda estariam engravidando aos treze, sem direito a voto, sem mercado de trabalho e longe dos holofotes públicos e tudo isso seria certo.

Seguindo essa lógica somente conseguiremos sobreviver como espécie se evoluirmos e somente conseguiremos evoluir se o que hoje nos parece certo tiver poder de criar em nós o sentimento de descontentamento. Com o descontentamento forçaremos a mudança e com a mudança criaremos novos padrões que permearão nossas atitudes, assim, evoluímos.

Dados do Movimento todos pela Educação, apontam que somente 7 em cada 100 alunos que terminam o ensino médio saem com conhecimento considerado adequando em matemática. E não estamos falando que 7 saem com domínio da matemática, estamos falando em “adequado” em um país que tem conceitos educacionais bem baixos. Em Português apenas 27 daqueles que saem do ensino médio adquirem o conhecimento adequado, ou seja, o nosso sistema educacional finge que ensina os nossos estudantes.

Como falei lá no inicio, é impossível isolar as atitudes de um individuo por si só, então, essa falta de qualidade do nosso ensino tem reflexo direto em nosso meio como sociedade. Essa, talvez seja a principal razão para a baderna que é o nosso país. Baderna, diga-se de passagem, que enriquece alguns poucos em cima da ignorância de muitos.

Esse será o meu descontentamento a partir daqui. A nossa educação falida, será o alvo de meu descontentamento, pois se não compreendermos que esse é o tipo de situação que se apresenta como uma oportunidade para ficarmos descontentes, então não merecemos evoluir e sem a evolução caminhamos a passos largos para a extinção.

Jonas Martins
Enviado por Jonas Martins em 27/01/2017
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