Internet: o perigo que salva

Muitos me perguntam se parei de escrever. Muitos me questionam por qual motivo não apareço muitas vezes online. Muitos querem saber o porquê do meu sumiço da rede social chamada Facebook. Pois bem. A algum tempo confesso que para mim o espaço se tornou chato, sem atrativos, onde muitas publicações não condizem com minha realidade de vida nem no que acredito. Não são as pessoas, afinal, temos que saber viver em qualquer ambiente onde temos o mínimo de controle de determinada situação e isso nem sempre é possível. O Facebook é uma conta administrada por uma pessoa física, com pensamentos diferentes, ações divergentes e questionamentos também diferentes dos demais usuários. Na contramão de toda essa confusão virtual estão as pessoas exalando o ódio, difamando amigos aos quais mal sabem se estes estão sentindo dores físicas ou passando qualquer outro desconforto.

Existem as pessoas digamos que "legais", as que sabem usar, postando mensagens de auto-ajuda, reflexão, empoderamento. Auto-ajuda pelo Facebook não adianta nada se a fase que a pessoa estiver passando na realidade dos factos não for acompanhada por um profissional de forma física. A reflexão através da rede social ajuda, mas ficar refletindo em cima da ideia de outros é o mesmo que estar andando na contramão. O empoderamento nas redes é marcado pelas curtidas e pelos comentários dando a cada ser o poder de enganosamente estar "se sentindo melhor". É outro caminho torto pelo qual não deveríamos passar por ele.

Uns usam do espaço como se fossem igrejas. É um direito delas usarem! Outros usam como se fossem um caminho para se chegar aos motéis! Não deixa de ser também um caminho! Outros usam como se fosse um livro de poesias. Existem vários tipos de usuários: os leitores, os compartilhadores, os ruaceiros, os compositores, os observadores, os de opinião formada e ainda os maria vai com as outras, e ainda faltaria definição de espécies de usuários. Outros usam como se fosse uma arena, desferindo toda e qualquer ofensa virtual às pessoas que não estão dentro dos padrões que o sistema pede. Os gays podem taxativamente se sentirem ofendidos quando uma mulher resolve dar em cima deles achando que ele seja hétero, assim como um hétero também pode se sentir ofendido quando um gay resolve flertar com o desconhecido.

Quantas vezes não nos deparamos com muitas pessoas dizendo: "a rede social é minha e eu posto o que eu quiser." Esta frase tem todo sentido, toda serventia e todo embasamento dentro de uma ação chamada de democrática. Por outro lado, se a rede social é minha, logo eu que escolho o que desejo ler, o que devo compartilhar e com quem quero compartilhar. Tomada então esta postura, de não interagir muito com quem não conhecemos de facto, passamos por arrogantes, cínicos, egoístas. Neste contexto também tem que se dar o devido o valor, afinal, arrogância, cinismos e egoísmos são sentimentos humanos, não deveriam, mas são e acredite, também encontrado em algumas espécies do mundo animal.

Vou dar um exemplo para tentar explicar melhor. Coloquemos dois cachorros para se alimentarem numa mesma vasilha. Em várias vezes percebemos um rosnando para o outro querendo apenas a ração para si próprio. Pode significar um certo egoísmo uma vez que o cachorro esteja querendo a ração apenas para si. A fome dele é tanta que não deseja dividir nem a ração. Isto acontece no mundo animal em geral, não necessariamente apenas na vida dos cães, o qual poderíamos chamar de marcação de território.

A rede social une as pessoas e atrai aos que se sentem muito sozinhos. No mesmo local encontramos pessoas que se consideram psicólogos sem ao menos nunca terem enfrentado um banco de escola ou não se deram ao trabalho de fazer um laboratório em determinada comunidade. Encontramos psicanalistas que nem ao menos tiveram ou têm um consultório de atendimento com endereço fixo. Encontramos pastores que sequer tiveram seus chamados confirmados por Deus. Encontramos serviços prestados de forma quase que gratuitas. Não vejo isso com positivo na vida das pessoas e explico o motivo.

A realidade é, onde é que está o sistema de defesa das pessoas perante determinada opinião desencontrada?

As palavras desferidas através da virtualidade não podem racionalizar dentro de um ser uma mudança, uma solução para o que elas passam no momento. Continuar usando o espaço da forma que vem sendo usado colocou nossa vida justamente no fio da faca de dois gumes. Se caso resolvemos então deletarmos nossa página ficará bem evidente que as ironias vão chover no mesmo local, nos taxando disso ou daquilo, que não entrosamos uns com os outros. Ou então, muitos passarão a ficar pensando: o que foi que eu fiz para fulano ter me deletado? Ou seja, a rede social é interessante, ajuda, une, constrói, unifica, mas em contrapartida, não responde justamente aquilo que nos move: nossos questionamentos internos.

Atualmente considero que o espaço tem sido usado como uma plateia vazia, que aplaude sem palmas ao que não se conhece de facto e que ovaciona até mesmo o ladrão que tomado de uma arma assaltou e matou no dia anterior um trabalhador dentro de um coletivo lotado. É preciso que se tenha muito senso crítico, muito equilíbrio, muito preparo emocional para se usar a rede social. Sou totalmente contra o uso exagerado de qualquer que seja o espaço virtual, afinal, eu preciso dar ao meu adversário a chance de se explicar.

Mas como isso é feito através da virtualidade? Fica então essa incógnita em nossa cabeça.

Certo dia fiz uma poesia usando o pronome de tratamento "você" e a palavra "azia". Logo, quando digo "você" e "azia", 'pode' pensar a pessoa que estiver lendo que de facto tais palavras usadas esteja sendo direcionadas intimamente para elas, sendo que azia é um desconforto que todo ser vivente sente. Mas não sabemos o que se passa na cabeça de uma pessoa, não sabemos como está a vida dela no momento. Para que se tenha maturidade virtual é preciso que se tenha maturidade emocional em primeiro lugar, em miúdos, se sentir bem com o que lê ou com o que vê, podendo ser algo bom ou ruim. Muitos da minha faixa de idade vão saber o que estou querendo dizer. Viemos da época da datilografia, onde a professora carinhosamente nos ensinava a 'conhecer' todo o teclado e a máquina. Lembro-me bem da minha professora. Como eu estava totalmente acostumado a digitar olhando para o teclado, ela o cobria com um pano, onde minhas mãos por debaixo do pano ia datilografando. Enfim, mas era a escrita no famoso papel, o papel ofício.

Hoje qualquer criança tem acesso a um Smartphone, Tablet, Notebook ou celular de última geração. Isso sem falar nos outros meios que não me dei a chance de conhecer por não me atraírem. A tecnologia, assim como os aparelhos, tem o poder de incluir as pessoas umas às outras, mas pode causar um estrago enorme na vida de muitos. O jogo Pokemon go tornou-se viral dia destes atrás, por enquanto está tudo em silêncio, quase que não se tem falado nele, mas com certeza está sendo usado no mundo todo inclusive no exato momento.

A anos atrás resolvi criar minha conta no bombástico Twitter. Na primeira semana desanimei devido aos limites dos caracteres. Quem tem ideia não pode se deixar limitar apenas a 140 caracteres. Até pode, mas certamente vai ficar faltando algo a dizer. Nem sempre tudo muito lógico é necessariamente bom às nossas vidas. Somos movidos da sensibilidade, envolvendo amor, amizades, namoros, saudades, xingamentos, ideias opostas, pensamentos críticos, discordantes, assertivos, errôneos, ou seja, cada pessoa é de um jeito e é isso que vale a pena estarmos próximos uns dos outros.

A rede social nos aproxima, porém, nos distancia ao que poderíamos chamar de direito à defesa física. Não posso ser radical ao extremo nem muito menos compactuar com qualquer pensamento da internet. Tenho uma visão de mundo, de fé, de postura, de senso crítico. Não posso entrar "na onda" de que a internet tem apenas acrescentado na vida das pessoas pois seria um ato bem infantil da minha parte. A virtualidade tem os dois lados, o positivo e o negativo. O positivo é o que posto e o que penso que seja do meu gosto. O negativo é como quem que está lendo se sente emocionalmente para gerir tal informação. Digo ainda mais, qual o sistema de defesa do leitor?

Provavelmente isso geraria um desconforto e criaríamos inimigos fácil, fácil. Voltando ao início do meu texto. Nunca parei de escrever. Nunca parei de compor poesias. Nunca deixei de me entrosar com meus amigos. Apenas me preocupei com o leitor, afinal, nem tudo que penso é o certo e preciso respeitar isso no outro.

Onde vamos parar não sabemos. Até que ponto isso é importante às pessoas também não sabemos. O quanto isso muda nossa forma de viver também não sabemos. Vivemos em crescente mudança, transformações, mudanças de comportamento e posturas. Nos isolarmos uns dos outros não seria legal. Podemos fazê-lo sem nenhuma culpa, mas não seria o melhor a se fazer justamente pensando no outro. A nossa capacidade de lidar com os meios é que nos difere uns dos outros. É bem provável que tudo que falei aqui para alguns é extremamente sem importância. Mas o propósito não é falar apenas para alguns, mas para um todo, senão não seria democracia. A democracia acaba se tornando um impasse na vida de uma comunidade quando se há diferentes formas de análise de determinada situação.

As redes sociais unem e desunem. Alimenta e tira o alimento. Empodera e massageia o ego. Depois, puxa o tapete como se nada tivesse tanta importância. E então? Qual tem sido a nossa relação com as redes sociais mediante ao que aqui relatei?

Lembrando que cada ação gera uma reação. Isso pode vir através de elogios massageando o meu ego como também através de um xingamento referindo-se à minha mãe ou a minha sexualidade. O sentimento humano nasce na mente, passa pelo coração, depois segue pela consciência e sempre acaba nas redes, como assim o fiz nesse exato momento.

Tudo que espero para o mundo em que estou é que haja paz, humanidade e muito amor entre todos os homens, seja ele no meio virtual ou no campo físico.

Daniel Cezário
Enviado por Daniel Cezário em 02/02/2017
Reeditado em 02/02/2017
Código do texto: T5900391
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