... DE RUA
... DE RUA
Porque me chamam assim?
Sabe... Um dia eu tive um nome.
Não vou dizer qual era
Pois até minha identidade foi roubada.
Fiz centenas de pessoas felizes.
Abanei minha cauda
Nos momentos de cada um juntos.
Quando apareceu um ser humano
Acho que era menor do que eu
Percebi que aos poucos
Ninguém mais ligava
Por tal de desprezo
Na rua fui morar
Comi restos de comida do lixo
Pois precisava de tanta fome
Emagreci demais e
Os meus ossos apareceram
Vez ou outra alguma boa alma
Alimentava meu estômago e minha alma
Com algumas carícias medrosas
Mas, era bom demais!
Levei pauladas e pedradas
Chutaram-me diversas vezes
Que até perdi as contas
Corria muito quando avistava
Tal de “carrocinha”
Meu faro era muito aguçado
Por inúmeros odores do cotidiano
Minha audição; perdi um pouco.
Por causa das gritarias, carros buzinando,
Bombas que vão soltando e muito mais.
Meus olhos foram ficando embaçados
E aos poucos escureceram
Eu andava cambaleando, prá lá e prá cá.
Certo dia, ouvi um estampido muito forte.
Depois disso, minha vida mudou e melhorou muito
Tudo ficou mais nítido, claro e suave
Deixei minha vida de cão
E fui morar no céu.