D. IDALINA! UMA CRONICA...!

La vinha Dona Idalina de Souza, arfando, andando com dificuldade, com seus 78 anos, duramente vividos. Atualmente sofria de artrose nos joelhos. Lá vinha cruzando a rua pequena, onde morava. Trazia sempre um balde com água para regar as flores, que surgiram, meio que por acidente, raquíticas, à beira de um muro que cercava um terreno abandonado da prefeitura, entre arbustos ralos, cacos de vidro, pedras, num dos arrabaldes distantes de Sapopemba, extremo leste de São Paulo.

Todo dia, Dona Idalina, repetia o mesmo ritual. Ela morava numa casinha geminada, quarto, sala e cozinha. Um espaço pequeno demais, para cultivar seu amor pela natureza. Mas nem por isso deixou de manter sua paixão e assim, adotou as flores que nasceram do outro lado da rua, além de ter plantado mais algumas mais. Aquelas flores baldias, eram o seu “jardim”, sua razão de vida. Tratava-as com carinho e desvelado esmero. Assim, esta sua rotina se repetiu por meses. Elas já tomavam forma e se tornaram um jardim visível a quem passasse pela ruazinha esquecida.

Um dia, porém, Dona Idalina não apareceu! Por vários e vários dias, ela não veio! Dois meses se passaram, sem que ela desse as caras, no entanto, as flores pareceram não sentir a ausência de sua protetora e seguindo seu ciclo natural, pela primeira vez, floriram! Uma maravilha, tão bonitas, coloridas, naquela paisagem outrora, depauperada!

D. Idalina não as tinha visto ainda nos seus trajes de gala! Pois, como disse, há algum tempo deixara de regar suas meninas, como costumava dizer. Para piorar, em um dia chuvoso, as flores foram colhidas por uma outra senhora igualmente idosa, que formou um feixe e as levou para um cemitério próximo, para adornar a sepultura de algum parente ou conhecido. Se presenciasse aquela cena, D. Idalina, certamente, teria ficado muito sentida. Imagina arrancar minhas florzinhas!!!

Porém, a idosa senhora, já no cemitério próximo, teceu com calma e caprichosamente, uma linda coroa de flores, adornada com raminhos e fitas coloridas e a enlaçou numa cruzinha de madeira, de uma cova recente e muito simples, tão bem feita que mal se podia ler o nome da pessoa falecida:

Idalina Salustiana de Souza!

*1937 +2015

D.Idalina trabalhou por mais de 25 anos como copeira numa empresa de componentes em S.Paulo, um dos nossos clientes. Mesmo aposentada continuava trabalhando. Ela fazia um café delicioso e sempre preparava um café novo quando eu ia lá. Lembro-me do seu jeito acanhado, pedindo licença para entrar na sala do Diretor, para nos ofertar um cafézinho. Dava um grande sorriso, quando dizia que eu somente ia lá para tomar o café dela e não para negociar componentes.

Outra lembrança que guardo dela, era o carinho com que cuidava das plantas do escritório da empresa. Vi o quanto as amava! Ela se aposentou em 2010 e soube que faleceu no ano de 2015.

Esta crönica é uma pequena homenagem a ela. Agora cuidando das flores do céu!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 04/02/2017
Reeditado em 31/03/2023
Código do texto: T5902369
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