Naquele domingo levantou-se cedo, colocou seu costumeiro avental, e foi logo para a cozinha fazer o bolo nº 1. Aquele bolo de laranja com “meladinho de açúcar” por cima, que o filho caçula chamava de bolo dos deuses.
Era aniversário dele. O dela também. Sempre estiveram juntos nessa data desde que ela o ganhou de presente no aniversário de 28 anos.
Quando ele se levantou naquela manhã, o bolo estava ali à sua espera. Quentinho, fofo, macio... Dos deuses. Abraçaram-se e sentaram-se para o café.
- Mãe, você está fazendo é 60 né? (a fonte reduzida é proposital)
- Quê isso menino? Que coisa indelicada perguntar isso pra sua mãe.
- Não mãe, ‘disculpa’, tô perguntando é porque não parece mesmo. Se contar ninguém acredita.
- Não?
- Não. Você tá muito conservada!
Esse “conservada” foi o fim da picada, pensou. Mas, estava valendo. O ego lhe cochichou aos ouvidos que aquela manhã com o filho, ao som de “conservada”, era um dos mais caros e raros presentes que a vida lhe dava.