Onde você estava no dia 31 de Dezembro de 1988/89 ?

Lembrei-me de uma reportagem antiga feita pelo fantástico em 2009. Há oito anos o programava relembrava um dos piores acidentes marítimos que o Brasil já presenciou. Fato esse provavelmente desconhecido por pessoas com menos de 45 anos.

Entre o final de um ano velho e o começo de um novo, 55 pessoas perderam a vida no afundamento da embarcação Bateau Mouche. O rito de passagem entre 1988 e 1989 para a memória de sobreviventes e familiares dos mortos nunca findou.

O ano novo para muitas pessoas é uma data mais que especial. Qualquer sacrifício é facilmente aceito em troco daquilo que ilustra perfeição e antologia nesse dia. Assim, a queima de fogos de artifícios em Copacabana (RJ) é talvez o espetáculo mais deslumbrante e hipnotizante que existe.

O Bateau Mouche IV ofereceu um programa perfeito misturando réveillon e fogos de Copacabana, isso cegou. Não importava ás condições de deterioração da embarcação, infração das leis de segurança com coletes salva-vidas presos no fundo do barco, nem o excesso de passageiros e a interdição do barco pela marinha seguido da liberação mediante ao suborno. A queima de fogos cegou pessoas incrédulas.

O fantástico mostrou o reencontro de Maria de Fátima, um das sobreviventes e um antigo herói esquecido, Jorge Souza. Pescador de peixes e de vidas. Resgatou quase quarentas pessoas das noventa que viveram. Passados vinte nove anos do acidente, o sentimento de gratidão de Maria de Fátima estava vivo, e pelo visto só o dela, visto que Jorge relata que nunca receberá nenhum cartão. Maria de Fatima abraçou o pescador com força e emoção, disse o obrigado que em meio aquela apoteótica e kafkiana noite não conseguiu dar.

Dessa forma, Jorge continuava pescador em 2009, não quis se desvencilhar do mar. Mostrou-se ser ainda um homem simples e humilde, com um sorriso generoso comandava um pequeno e velho barco.

Com o coração maior do que a imensidão oceânica em que navega há 46 anos, Jorge merece indubitavelmente uma quantidade imensurável de barcos que nem ele mesmo pode contar.

Nilo Rodrigues
Enviado por Nilo Rodrigues em 12/02/2017
Reeditado em 12/02/2017
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