PRETA PRETINHA

Inventaram de vetar marchinhas de carnaval, por causa do “politicamente correto”.

Não foi a primeira vez que isso ocorreu e talvez ainda façam coisas muito piores, mas é natural, em tempos de desordem social e achatamento cultural, como atualmente ocorre em nosso país, e, em maior ou menor grau, em todo o planeta, que se eleve tudo que é primitivo, tosco, popularesco, ao mesmo tempo em que se condena ao ostracismo o que há de mais elevado em termos culturais, tachando todo e qualquer conhecimento mais apurado de esnobe, arrogante, pedante, coisa da elite. No meio do caminho, para dar ares de humanismo a toda a parafernália demagógica, entra o politicamente correto, como salvação para as minorias.

Ocorre que as minorias continuam a ser desprezadas, humilhadas, desassistidas, sem qualquer atenção do poder público, dos poderosos e também dos que alardeiam ser aguerridos defensores dos necessitados. Com raríssimas exceções, só vejo papagaiada inútil e dinheiro jogado fora, com campanhas bobas, inócuas, sem nenhuma ação mais efetiva. Aliás, esse é, exatamente, o modus prociendi de todos os que se projetam, quer politicamente, socialmente ou financeiramente, nestes nossos dias. Falam bonito, agem com indiferença e se locupletam.

Enquanto poucos ganharem muito e muitos ganharem pouco, representantes políticos se distanciarem de seus eleitores, julgando-se autoridades independentes, instituições várias servirem a interesses escusos e ignorarem o povo, tudo que se fizer ou falar será balela, puro remendo social, como tentativa de mostrar trabalho ou legitimar o que é ilegítimo.

Todos que exerceram o poder nas últimas décadas, assim como os que lá estão, são podres. Mesmo os que não atentam, ostensivamente, contra os interesses da população são omissos ou coniventes. Quem não se importa em receber mordomias e honorários pra lá de absurdos, num contexto social de miséria e desordem, tem coração de bandido.

Mas já que é pra bagunçar o coreto, proponho aos imbecis um carnaval ridículo.

Na “MARCHA DO GAGO”, ao invés de dizer “sou mo-mole pra fa-falar”, troquem por “estou indisposto para interagir adequadamente”. Politicamente correto.

Na mesma marcha, ao invés de dizer “eu fico ga-ga-ga-ga-gago no meio do salão, seria melhor “sinto-me tarta-tartamudo em meio ao salão”. Politicamente correto.

Na canção “PRETA PRETINHA”, já deve ser mudado o nome para “AFRO-AMERICANA AFRO-AMERICANINHA” e o refrão “afro-americana, afro-americana, afro-americaninha.

Na marchina “SASSARICANDO”, “o velho na porta da Colombo, sassaricando” passa a ser “o idoso à frente da Colombo, flertando”. Bonito, né?

Na marcha “O TEU CABELO NÃO NEGA”, ao invés de “o teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor, mas como a cor não pega mulata, multa quero teu amor; pode-se trocar tudo por “o teu perfil capilar é característico, mulher parda, porque tua pigmentação indica que és parda, e como ignoro tais detalhes físicos, solicito tua afeição.” Muito mais afim com o que apregoam os demagogos, mas incondizente com a mais crua realidade de nossas ruas. Isso é lamentável? Claro que é! No entanto, é a situação com que temos de lidar.

Negar o que é real e recorrente é hipocrisia pura.

Enquanto não educarmos crianças e jovens, enquanto não assistirmos à população, em suas necessidades básicas, enquanto não dermos a todos as mesmas condições que apenas alguns privilegiados possuem, o “politicamente correto” continuará sendo mais uma iniciativa infrutífera e tola, sem aprofundamento social.

No dia em que houver gente, efetivamente, interessada em fazer algo de bom, não será preciso alardear falta de dinheiro ou apoio político, porque todos verão, em pouco tempo, que bem intencionados estão agindo com correção e desprendimento, e logo haverá uma multidão se juntando para ajudar. Isso já aconteceu antes e tem como voltar a acontecer.

Enquanto isso, os perfumados, porém podres, que comandam a bagunça institucional, aproveitem enquanto podem. Tudo tem limite. O tempo de mudança está chegando.

Sugiro aos que detém algum poder, que cantem uma marchinha, neste carnaval, para eternizar este momento, que não deve se prolongar muito:

Ai, ai, ai, ai. Está chegando a hora. O dia já vem raiando, meu bem, e tenho de ir embora

Vão com Deus, e o diabo que os carregue.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 12/02/2017
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