QUER SABER ONDE?

Encontro-me verticalizado de braços abertos no horizonte escondido e na amplidão do deserto que, de mim, em forma de cruz, verga uma sombra no vazio infinito.

Encontro-me na mansidão da noite, nos beijos da lua, na rota dos desacordados que somos quando não mais controlamos os incessantes pensamentos; cessante pulsar da verdade que não compreendemos.

Encontro-me atolado na lama da alma, sufocante mistério dos mistérios que nunca permite decifrar-lhe. A arte da indagação é vã na compreensão dos infinitos “eus” que habitam a caixa craniana.

Enganam-se os que pensam que fogem de si quando se entorpecem de ópio no invólucro de sua ácida e paralisante mentira.

Pobres coitados, açoitados pela ignorância de sua própria

“ verborreialização” mental

(ação intencional dos fracos) que movidos pela grande roda de Samsara iludem-se com a promessa de que algum dia compreender-se-ão, compreendendo a si e ao próximo.

Vejam os nossos lideres, todos afetados pelos seus “eus si mesmos” contaminados pela enojante aparência de que: “faço isso em prol de”.... esquecessem-se de que se esqueceram de si como essência e dos outros, que além de usá-los, os dilacera!

Na mirabolante ideia de que se é possível caminhar na contramão da “farsa-ilusão” sigo eu pelo contorno espiral na observação dos vagos e raros silêncios do turbilhão mental. Como que um “caçador-admirador” das entranhas das entrelinhas que subjetivamente compactuam com o divagar esperançoso e lampejante de um pensamento que grita:

- Vale à pena continuar, não desista!

Quer saber onde?

Encontro-me na memória dos dias transcorridos que lhe impactaram a vida ao perceber minha presença.

Encontro-me ávido no lívido sossego de tuas artimanhas e de tentativas de chamar-me a atenção para os teus gostos e desejos.

Encontro-me na incompreensão de tua procura e na tua condição humana que imita a minha.

Encontro-me nas tuas inúmeras tentativas de compreender-te, tal como eu, a mim: em vão!

Encontro-me também na sapiência do silêncio que ignora todas as filosofias atrofiadas pela impactante tempestade cerebral que não cessa e que nos atordoa.

Encontro-me na imaginação dos cegos que sentem sem ver, que enxergam com a alma, que tateiam seu mundo no claro-escuro de sua não visão e que andam despenteados por não se verem, que desconhecem o que é ser diferente, por não terem tido a “desoportunidade” do letramento visual mundano e sagaz.

Encontro-me também nos cheiros das lembranças de “ mim-tempo- que-se-foi” na graça da seriedade de meu semblante sisudo-introspectivo e nos meus maneirismos personificados pela minha educação sociocultural.

Encontro-me em minha incompreensão de não enxergar o teu verdadeiro eu, e que, em minha ignorância “adultocêntrica”, não te sorri como criança pura que certamente sou.

Encontro-me no dilema de estar e não estar fazendo-me entender quem sou e que, como você, também tento entender-me e entender quem sou eu, em você.

Encontro-me no tempo polido dos antepassados bem vestidos que com palavras elegantes e escolhidas, também tentavam entenderem-se.

Encontro-me na esperança de assistir o teu fim primeiro do que o meu, como se eu não fosse, também findar-me. Medo cruel daquela que leva a todos, sem foice e sem trégua...

É cômico, mas é real ter a coragem de admitir que a transição terrena nos mete medo. Não porque doa, mas porque é mister e inteiramente desconhecida e “apavorantemente” bela e reconfortante aos moribundos.

Encontro-me selado, calado doido falante, regurgitando pensamentos no emaranhado de letras que agora lês, ao “meu-nosso” respeito: humanidade de grandes feitos e contrafeitos, que não admite estar nos últimos primeiros dias da transformação “metamorfosica” que se iniciou desde os primeiros anos de nossas vidas.

Duvidas? Então Viva! E encontre-me...

02/04/2016

18:00

Ricardo Brown
Enviado por Ricardo Brown em 13/02/2017
Reeditado em 16/02/2017
Código do texto: T5911125
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