Uma história sobre o Homem, Deus e o Diabo

E aí Deus criou a Mundo. Fez a natureza e os animais como os conhecemos hoje. Mas no começo, por incrível que pareça, ainda não existia uma espécie que iria mudar drasticamente a história desse pequeno planeta: o Bicho-Homem! Este animal surgiu posteriormente, como uma mera experiência, uma pequena variante para dar um “gás” à vida monótona dos primórdios da Terra. Deus, estando entediado da perfeição do planeta que criara, onde todos os animais viviam em harmonia, matando para comer, comendo para viver, e vivendo para serem comidos, decidiu criar uma espécie totalmente diferente. Esta criatura seria totalmente desprovida de defesas naturais contra seus inimigos, assim como não teria meios herdados do nascimento para atacar e vitimar presas, ou seja, seria um bicho frágil e entregue à própria sorte. A vontade do Senhor foi feita e essa aberração nasceu! Foi colocada no meio de todas as outras espécies que já existiam, todas elas cheias de garras, trombas, couraças, cascos, venenos e patas, e o Bicho-Homem, pobre coitado, apenas com seu corpo esguio e uma folhinha para tapar o sexo. O banquete foi generalizado! Aquela presa era muito fácil. O Bicho-Homem se tornou o fast-food da época. E esse foi o primeiro desequilíbrio causado por esse bicho, pois logo os animais que deles se alimentavam começaram a levar vantagem sobre os demais, e começaram a super-popular a Terra. Vendo isso, Deus, com sua irritante mania de nunca interferir diretamente nas coisas que acontecem “lá embaixo”, decidiu, ao invés de acabar com esse espécie causadora de distúrbios, armar o Bicho-Homem com um dom que pudesse lhe ajudar a restabelecer esse equilíbrio. E optou erroneamente por uma aptidão jamais utilizada: o Raciocínio. A principio funcionou, o Bicho-Homem com seu raciocínio aprendeu a criar ferramentas, a viver em cavernas, a fugir para os lugares certos, a assustar outros animais, e assim conseguiu se proteger de grande parte de seus inimigos naturais, mantendo sua vidinha vegetariana. Mas esse tal de Raciocínio era uma ferramenta incrível, que evoluía a medida em que era utilizada, e evoluía mais rapidamente que qualquer outra aptidão natural de qualquer outro animal. Utilizando isso, o Bicho-Homem percebeu que podia não só se defender dos outros animais, como também podia atacá-los. Perceberam que podiam se alimentar da carne de suas presas, que isso lhes dava mais força, que podiam utilizar a pele delas para se protegerem do frio, e que podiam com isso se espalhar por todos os territórios disponíveis e até mesmo dominar a Terra, etc...E a evolução do raciocínio não parou...E foram criadas cada vez mais ferramentas, e cada vez mais o Bicho-Homem se espalhava, e cada vez mais ele pensava, e daí foram nascendo os males do raciocínio: a maldade, o egocentrismo, a arrogância, etc...Até chegarmos aos dias de hoje onde o Bicho-Homem se diz superior aos demais animais, e mais uma vez interfere de maneira maléfica no equilíbrio da Natureza (mas dessa vez de caso pensado!). Os avanços do dom daquele bicho pelado e desprotegido acabaram chegando ao ponto de fazê-lo acreditar, primeiramente, que foi feito à imagem e semelhança do seu Criador, em seguida, que o seu Criador não existe. E o pior: os argumentos para essa descrença eram tão consistentes e bem fundamentados que acabaram colocando Ele próprio em dúvida. Em resumo, Deus, agora em profunda crise existencial, vê que o Bicho-Homem não passa de um erro, um bicho que foi acuado e que acabou destruindo tudo quando lhes deram as ferramentas certas (ou erradas), e que o Raciocínio pode ser um inferno se utilizado apenas para o bem de uma única espécie ou grupo.

E aí você me pergunta: E o Diabo? Onde entra nessa história?

E eu te respondo: O Diabo? O diabo que nos carregue! Pois Deus não está mais em condições.