Parem o gás que o Trem bala vai passar

Faz certo tempo que tenho ouvido a molecada gritando “Olha o gás! Olha o gás”. Confesso que fiquei completamente sem saber do que se tratava, afinal, eu só ouvia algo do tipo quando o caminhão do gás passava na rua com a sua indefectível musiquinha sonolenta. Até que um dia, assistindo televisão, ouço e vejo uma chamada parecida com “No próximo domingo você vai conhecer o grande hit do momento!”. Então apareceu a cara de um MC qualquer e adivinhem... “Olha o gás! Olha o gás!”.

Não acreditei! Isso é música? Isso é hit do momento? Como pode a mídia dar espaço a algo como isso? Pior ainda, como o público pode consumir isso? Como os pais permitem que seus filhos consumam isso? Como tanta porcaria pode render dinheiro? Como que um conjunto de batidas desconexas sobre uma espécie de jingle pode fazer tanto sucesso? É, a meu ver, um subproduto de uma subcultura empobrecedora. Um lixo comercial que serve apenas para deixar parte do público em seu estado de zumbi, que não sabe, não quer ou tem preguiça de pensar por si só. Mas deixa isso pra lá, pois acabou que por uma dessas felizes coincidências – que nem me lembro mais – eu nem assisti ao programa; não perdi meu tempo e nem passei raiva.

Dias depois, numa dessas redes sociais vejo um vídeo com uma música bonitinha – foi o que achei a princípio: Trem bala. Essa música meio que viralizou no mundo virtual e um belo dia, num programa noturno de TV vejo uma moça de aparência simples e tímida cantar o Trem bala. Passei a ouvir com mais atenção e analisar o que lia e ouvia.

Trem bala tem uma mensagem singela e forte sobre o quão importante é olhar ao redor de si e perceber que, embora únicos, não somos exclusivos. Mostra também que a solidariedade para com o próximo é tão importante quanto o amor próprio; que o dinheiro, mesmo importante, não é essencial. E o mais valioso de tudo o quanto possa haver: o como é imprescindível termos as pessoas com as quais nos importamos e que se importam conosco ao nosso lado. Enfim, é a união da melodia perfeita com uma letra riquíssima. infelizmente, porém, a maior parte do público não está preparada para receber e entender “que a vida é trem bala, parceiro/E a gente é só passageiro prestes a partir” porque “quando menos se espera a vida já ficou pra trás”.

Portanto, que me desculpem os que olham para o gás (se não quiserem desculpar que vão à ...), mas abram alas, parem o gás que o Trem bala está passando e eu não quero perder a viagem!

Cícero Carlos Lopes – 27-02-2017

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 27/02/2017
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