CHICOTE

Faz um ano que você partiu numa manhã de domingo. Outro dia revi o vídeo derradeiro e fotos dos seus momentos finais, no sopé de uma serra em Itapecerica, regada por um rio estreito, cheio de pedrinhas brancas, cercada de verde e vida por todos os lados. Ali seu corpinho tão pequeno, descansa, sob o sol forte atenuado pelas sombras de árvores tranquilas.

Ao vê-lo, tão indefeso, fquei imaginando quão pequenos somos diante da grandeza da terra e quanto menor ainda somos em relação ao universo, assim como nossa vida é infinitamente pequena diante da eternidade. Imagina você com seus 45cm de comprimento e 25cm de altura e seus curtos 12 anos de vida!

Não sei se serve de consolo saber, mas você sempre será grande para o que lhe amaram. Gigante para aqueles com quem dividiu o teto e o espaço, às vezes, indevidamente, a mesma comida além de momentos incontáveis de alegria. Meus olhos ainda procuram um sinal de amizade que só vi nos seus. Vez por outra, anda me pego espiando o quintal a sua procura. Ainda me entristece saber que você não está lá.

Sinto mais sua falta, todavia, quando chego em casa de volta do trabalho e não lhe encontro na escada, assim que ouvia o alarme desligando o carro. Ah que contentamento! Era como se não nos víssemos há anos! Não importava como tinha sido seu dia, se havia passado mal ou não, se havia tomado broncas, a exultação era sempre a mesma, sempre genuína e contagiante. Imagino como seria, se nos encontrássemos de novo, depois desse tempo?

Todavia, meu caro, lhe digo que apesar de não sermos nada e estarmos aqui de passagem e portanto, condenados a desaparecer na poeira do cosmos, a nossa amizade, marcada por tantos gestos de carinho, afeição e lealdade, não haverá de passar desapercebida.

Apesar de tão particular, penso que essa relação deixou vestígios na delicada teia de afetos que envolve a humanidade. Assim escrevo estas linhas, para que todos saibam disso.

Não é um absurdo pensar assim! Nosso mundo é por demais, áspero e tudo conta, quando se trata de revelar sentimentos que ajudem a humanizar as pessoas e a revelar o que vai escamoteado na alma e que pode ajudar a abrir os subterrâneos do homem, à luz do sol.

Assim meu companheirinho de viagem! Nada é em vão quando amamos! Que os anjos te velem para sempre!

AO meu amigo cachorrinho, Chicão, um Lhasa que nos deixou!

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 04/03/2017
Reeditado em 11/01/2020
Código do texto: T5930142
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