(MEL)anina

Melina era negra, cabelo crespo, pobre, estudava em escola pública, seu pai era pedreiro e sua mãe costureira. Nunca teve dinheiro para regalias e também não se importava em não ter o calçado da moda. Tinha amigos, diversos amigos. Tirava notas boas e jamais foi chamada na diretoria por mal comportamento. Um dia, em um debate sobre preconceito na sala de aula, a professora perguntou a ela se já sofrera bullying em algum lugar. A moça com a maior clareza do mundo respondeu que não, e não era mentira. A pessoa que perguntou ficou surpresa, esperando que a estudante contasse a velha história de desrespeitos e insultos diários. Vendo a feição assustada da professora, Mel continuou sua resposta dizendo que jamais fora ofendida porque nunca ligou para os que tentaram a intimidar. Ela se conhecia o suficiente para saber que as palavras mais sujas da língua portuguesa muitas vezes referidas a ela, não serviam para adentrar sua mente sensata. Conhecia muito bem a sua história e a de seus antepassados e justamente por isso sentia orgulho de ser como era e pensava ser perca de tempo lidar com opressões. Desde quando começou a ver o mundo com bons olhos, Melina medicou-se com uma dose de amor próprio diária, e assim tudo ficou mais fácil. Depois daquela resposta, a professora se emocionou e deixou escapar uma lágrima. Vendo a situação, Mel até sorriu só de pensar que algumas pessoas diriam que a mulher diante dela estava se fazendo de vítima apenas por estar chorando ou acusada de apropriação cultural por causa do turbante que usava.