Diário de um ocultista

Mestre e aprendiz andam sempre juntos.

Mas aquele mestre estava completando 87 anos. Já cansado das batalhas, tentava com calma continuar ensinando a arte real para aquele até então jovem em seus 26 anos e sedento por conhecimento. Estava cada vez mais difícil visto as necessidades mundanas do dia-a-dia, mas ambos insistiam. Afinal não existia nada melhor do que expandir sua própria natureza, pelo menos mais um pouco diariamente.

Em uma visita, ele retirou com todo o cuidado o velho livro do esplendor do armário.

- Temos tempo para ler este aqui - Dizia ele - Apenas lembre-se de que consicência é tudo. Ela move toda a sua realidade. Todo o resto do que praticamos gira em torno disto.

Haviam muitas práticas que foram ensinadas cautelosamente. E o aprendiz colocou-se naquela manhã a fazer mais uma das mais corriqueiras, que era conversar mentalmente. Mas houve algo estranho. O aprendiz não conseguiu encontrar seu mestre em sua própria consciência.

Ao chegar no escritório, algo lhe dizia que haveria uma surpresa. Mas ele não poderia contar essa história maluca pra ninguém. Então simplesmente, com aflição tentou levar seu dia normalmente.

O cair da tarde chegou com a notícia. Eles não estariam juntos para celebrar o solstício de dezembro, e sua passagem de 27 anos. Seu mestre não pertencia mais a este mundo.

Poucos membros da família, senão ninguém entendera a posição do jovem como cão de guarda ao lado do corpo no velório. O aprendiz agora, trilhava solitário. A missão da família estava agora em suas mãos. Tanto havia para ainda aprender. Mas agora teria de ensinar, secretamente e vagarosamente para o aprendiz certo.

A irmandade o acolheria, mas ninguém o substituiria.

Revirando seus escritos, encontrou uma carta. Na carta, coordenadas para seguir. Um mapa, não físico mas um guia de estudos. Aquele velho pensou em tudo. Não seria fácil, remontar sua biblioteca e o caminho para completar sua jornada em diversos países diferentes.

Ainda hoje, a busca não se completou. Alguns dizem que aquele já não tão jovem, vive uma vida muito estranha mas ao mesmo tempo incrível e sem raízes. Mas o não tão jovem não se importa com os comentários. Ele simplesmente acorda todos os dias e diz a mesma coisa para sí mesmo:

- É o negócio da família.

Marcello Morettoni
Enviado por Marcello Morettoni em 06/03/2017
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