FINS DE TARDES

O sol ia se escondendo por entre as galhadas do velho jacarandá lá no espigão do poente.

O horizonte do nascente ia ficando colorido, devido aos raios amarelados que vinham do poente.

A máquina de costura de mamãe ia parando de romper o silêncio do fim da tarde.

Os animais domésticos iam silenciando.

Mamãe vinha apressada do quarto de costura, “quartinho da sala” dizendo:

- corre lá, vai tratar dos porcos, jogar milho para as galinhas, fechar os bezerros e não se esqueça de jogar quatro espigas de milho para o delegado (cavalo).

Enquanto eu ia fazer essas tarefas, mamãe ia colocar água para esquentar. Pois logo papai chegava do roçado para tomar banho, jantar e descansar.

Num caldeirão de ferro, mamãe colocava cinco litros de água na primeira boca das três bocas da trempe do fogão de lenha que ficava no canto da cozinha.

Na segunda boca, uma panela de ferro começava a cozer o arroz.

Quando papai chegava, mamãe temperava a água fervente com água fria numa bacia grande onde ele ia tomar o seu banho. Depois meus irmãos e eu.

No fogão já estava pronto o arroz, o feijão branquinho, pois tinha sido colhida há poucos dias, a carne suína de lata bem fritinha, a couve fresquinha colhida há pouco tempo na horta. A farofa feita com farinha de milho e miúdos de porco e uma tigela com batatas cozidas com molho de tomate.

Mamãe acendendo as lamparinas, pois já estava escurecendo e as janelas ainda estavam abertas.

No rádio, programa do Zé Bettio até o horário de Brasília.

Depois que todos terminavam de jantar, mamãe colocava-se a mesa um docinho caseiro que só ela sabia fazer igual.

Havia doce de cidra, ora de figo, ora de casca de laranja, ora de leite... Sempre tinha um docinho no jantar.

Nossa casa era tudo muito simples, mas era muito bom. Era tão bom que não me esqueço até hoje.

Mamãe fechando as janelas, tocando cachorros e gatos para fora de casa e tudo ia se ajeitando.

O silencio era tomando conta da escuridão.

Fins de tardes que ficaram marcados em minha mente e doem no coração.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 09/03/2017
Código do texto: T5935743
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