EUCLYDES DA CUNHA

CAMINHOS DE EUCLYDES

Nelson Marzullo Tangerini

Na manhã do dia 15 de agosto de 1909, Euclydes Pimenta da Cunha desembarca da estação de trens de Piedade, subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, disposto a ficar frente a frente com Dilermando de Assis, amante de sua esposa Ana Emília Ribeiro da Cunha, posteriormente Ana de Assis, por ter se casado com Dilermando. Estava disposto a matar ou morrer.

Várias vezes caminhei por aquelas ruas de Piedade que vão terminar na Av. Dom Hélder Câmara - ex-Av. Suburbana e ex-Estrada Real de Santa Cruz, tentando pisar o mesmo chão onde Euclydes teria passado.

Em 7 de setembro de 2012, Janaína da Cunha, bisneta de Euclydes, e eu pegamos um trem na Central do Brasil em direção a Piedade. Durante a viagem, tentamos imaginar o que Euclydes havia pensado. Tenso como estava, teria prestado atenção na paisagem suburbana?

Lamentavelmente, passei uma informação errada para Janaína. A rua por onde o escritor passou não era a Rua João Pinheiro. E a casa onde pensávamos ser a casa dos irmãos Dilermando e Dinorah não é a casa que vimos e fotografamos. A casa, que já foi demolida e transformada num lava a jato, fica um pouco mais adiante, quase em Quintino Bocaiuva, indo para Cascadura. Queria o tempo que a Tragédia da Piedade se apagasse por completo.

Mas, por onde teria passado Euclydes, desde que desembarcou na estação de Piedade?

A Professora, historiadora e escritora Mary Del Priore, em seu livro "Matar para não morrer - A morte de Euclydes da Cunha e a morte sem fim de Dilermando de Assis", Editora Objetiva, Rio de Janeiro, RJ, 2009, relata que o escritor de Os Sertões subiu um ladeirão entre a Rua Goiás e a Av. Dom Hélder Câmara,

Segundo a Professora, Euclydes evitou passar por algumas ruas, pois estas estavam alagadas e elameadas, por causa da chuva forte daquele dia de agosto.

Mas que ladeirão seria este? Voltei ao local, um dia desses, pois pensava ser o ladeirão a Rua Belarmina, que vai terminar em frente a casa dos irmãos Assis. Mas esta rua não é um ladeirão, é uma rua de pequena elevação.

Escrevi para a Professora, falando-lhe que havia encontrado a tal ladeira, mas que esta não era um ladeirão.

No dia 21.12.2016, vindo de Quintino Bocaiúva para Piedade sob um sol de Canudos, inclemente, avisto, do outro lado da linha férrea, a Rua Lima Barreto, talvez o tal ladeirão citado pela escritora.

Como havia me esquecido da Rua Lima Barreto, se tantas vezes por ali passei?

Volto para casa e escrevo para a Professora, acreditando ser este o Caminho de Euclydes em direção à morte.

Sendo o subúrbio a morada dos infelizes, como escreveu Lima Barreto, que virou nome de rua, em Piedade, foi sítio de morte de Euclydes e de sofrimento do poeta Cruz e Sousa [que morou no Encantado] e do próprio Lima Barreto [que morou em Todos os Santos].

E fica a pergunta: o Caminho de Euclydes é hoje a Rua Lima Barreto?

Nelson Marzullo Tangerini, 61 anos, é jornalista, escritor, compositor, fotógrafo, memorialista e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro da UBE, União Brasileira de Escritores, da ALB, Academia de Letras do Brasil, e do Clube dos Escritores Piracicaba, onde ocupa da Cadeira 073.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 10/03/2017
Reeditado em 03/09/2017
Código do texto: T5936353
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