FLORIANOPOLIS DOS MEUS SONHOS

Ah que saudades da minha Florianópolis dos meus tempos de criança onde para chegar à ilha atravessávamos a velha e majestosa Hercílio Luz. Saía de meu bairro continental pegava um coletivo, aqueles bicudinhos a gasolina, da empresa Transporte Coletivo São João, hoje Transporte Coletivo Estrela, fazia o percurso pela Rua Dib Cheren que logo se emendava a Rua Santos Saraiva subindo o Morro do Geraldo, passava em frente a bebidas Max Wilhelm, onde mais adiante existia uma casa à esquerda que diziam ser mal assombrada o que me causava um grande medo desta possível assombração. Após a parada da descida do morro avistava-se o bar coringa, local de encontro de ébrios e boêmios famosos por aquelas bandas. Em frente havia o ferro velho do gole onde muitas vezes fui vender osso, ferro e vidro para juntar um dinheirinho e ir ao cinema, coisas de criança necessitada de um dim dim. Existia a mansão azul, tornou-se sede da Cruz Vermelha, hoje demolida, NPOR, esquina com a Gaspar Dutra, o grande comércio de João Vieira & Cia Ltda, concessionária Toyota da grande Florianópolis. Dobrando a direita tomávamos a Rua Gaspar Dutra que nos levaria ao centro de Florianópolis, mas antes de chegarmos ao destino passávamos pela frente Cine Jalisco, da Escola de datilografia Remington onde se formaram muitos datilógrafos (as) na época de ouro da datilografia. Diga-se de passagem, o jovem que não fizesse uma escola de datilografia estava fadado a ficar sem um bom emprego. O majestoso e antigo prédio do 14BC (14 Batalhão de Caçadores) hoje 63BI (63 Batalhão de Infantaria), além do prédio do Exército, havia neste roteiro, a antiga madeireira Ima, igreja Bom Jesus dos Aflitos, conhecida como a igreja do exército. Subíamos a Gaspar Dutra, se contornava o morro do viaduto, hoje não existe mais e sim a sede da LBV atravessávamos a ponte Hercílio Luz e já estávamos no centro de Florianópolis. Era comovente passar pelo mercado público sem o camelô a escondê-lo com as águas do mar batendo em suas paredes encrustadas de mariscos. Mais adiante o velho prédio da alfândega que por um tempo abandonado ficou e chegando à praça quinze o imponente miramar, local de encontro de boêmios, artistas e políticos. Esta velha imagem não me sai da memória, os barcos chegando às águas batendo de suas paredes com escadas para ao mar chegar. O antigo prédio do Hotel La Porta construído em 1932, primeiro prédio com elevador em Santa Catarina, mais tarde tornou-se agência da CEF. Os ônibus da empresa Tanner que paravam ao redor da Praça Fernando Machado levando seus passageiros para o bairro Agronômica e adjacências. Farmácia Vitória na esquina da Conselheiro Mafra com a Praça quinze, restaurante Polli’s, o velho ponto chic parada obrigatória de políticos, intelectuais, funcionários públicos e o povo em geral. Como era gostoso circundar a praça quinze olhar os senhores engraxando seus lustrosos sapatos a ler os jornais A Gazeta ou O Estado, ambos nativos desta cidade. Se refestelar sob as sombras da velha figueira tão faceira e altaneira, hoje amparadas por suas muletas para ao chão não sucumbir. Os velhos cinemas Ritz, Roxy, São José, Coral depois Carlitos, hoje não existem mais, tornaram-se templos religiosos, loja de variedades sem chances à cultura perpetuar. Onde estão as tradicionais lojas Pereira Oliveira, Machado & Cia, Modelar onde com meu pai fomos comprar um relógio Herma pago em 12 meses no carnê, isto no ano de 1971 a qual guardo como lembrança de um tempo passado que não volta mais, no entanto mantém-se em meus arquivos de memória. O carnaval com seus desfiles ao redor da praça quinze com suas famosas sociedades carnavalescas Tenentes do Diabo, Granadeiros da Ilha juntamente com as escolas de samba Copa Lord, Protegidos da Princesa, Filhos do Continente, Coloninha, etc faziam o nosso carnaval brilhar no Brasil e exterior. Surgimento da TV Cultura canal 6, sinal dos novos tempos, Florianópolis entrando na era da televisão, a velha Desterro se desterrando de suas raízes alçando voos cada vez mais altos deixando para trás suas origens açorianas e abrindo seus longos braços para novas ideias, novos costumes. No alto da Felipe Schmidt à direita o Departamento de Saúde Pública a seu lado as instalações do jornal O Estado, à esquerda a centenária fábrica de bordados Hoepcke que muito emprego gerou a seus munícipes, mais adiante a tradicional churrascaria Lindacap. Podemos entender como um puro saudosismo, mas no entanto é uma súplica de alguém que acompanhou e ainda acompanha o crescimento vertiginoso de uma cidade até ontem provinciana mas que se rendeu a sua evolução que se faz necessária porém seus governantes não a planejaram para um futuro arrebatador e desta forma vemos hoje uma cidade acorrentada vítima de seu próprio crescimento desenfreado. Gostaria de hoje ver uma cidade evoluída, mas mantendo sua história nos patrimônios materiais e imateriais que o tempo encarregou-se de exterminar as provas contundentes de uma Florianópolis que não volta mais e sim guardada na memória de cada ser vivente que de sua história participou, até seu nome reduziu-se para Floripa.

Valmir Vilmar de Sousa (Veve) 13/03/17

valmir de sousa
Enviado por valmir de sousa em 13/03/2017
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