Um olhar perdido

Saí do trabalho cansada e estava com um pouco de pressa para chegar em casa, tomar um banho, tomar um café, ler, escrever... Mas do outro lado da rua avistei um homem sentado, com um olhar perdido, um olhar cansado, de quem pede socorro. Pude sentir sua angústia em seu olhar.

Diminuí os passos sem tirar os olhos dele. Senti vontade de ir até lá, de oferecer ajuda, de ouvir sua história, de dar um abraço.

Mas pensei que poderia ser inconveniente, que não era da minha conta, que deveria esquecer aquele estranho.

E foi assim, com um olhar ainda mais perdido que o dele, que me dirigi para os meus aposentos. E mentalmente justifiquei, para mim mesma, meu egoísmo com a desculpa de falta de tempo.

Nota: Quantas vezes nos deparamos com instantes como esses, em que uma atitude poderia mudar positivamente a vida de alguém? Quantas vezes fechamos os olhos para o sofrimento alheio e fingimos que não é da nossa conta? Eu chegaria alguns minutos mais tarde em casa naquele dia, mas certamente encontraria um sentido a mais na minha vida se estendesse minha mão para aquele homem. Enfim, nunca vou saber, porque o tempo não volta. Nem mesmo sei qual era o seu problema. Poderia ser um filho ou uma esposa doente, poderia estar precisando de dinheiro para comprar um remédio, pagar uma conta ou comprar um pão, ou mesmo poderia estar apenas precisando de alguém para conversar, desabafar. Ficarei na dúvida, pois deixei escapar uma oportunidade de ser útil, mesmo que momentaneamente, na vida de alguém que não conheço.

Joalice Dias Amorim (Jô)
Enviado por Joalice Dias Amorim (Jô) em 14/03/2017
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