NA PALAVRA É QUE VOU... * Que difícil é...!

Às vezes, sinto uma vontade danada de gritar: "Que difícil é confiar!"

Tenho a minha experiência pessoal; e, naturalmente, cada pessoa terá a sua experiência pessoal, que partilha ou guarda para si. Sei muito bem que é doloroso remexer em infortúnios e ou frustrações. Concedo que pode ser preferível calar e tentar esquecer. Afinal, é bem certo que crescemos e vamos aprendendo com tudo quando encontramos no caminho. Não raro ouvimos esta expressão metafórica: "eu já vivi muitos carnavais" ou "eu já conheço isso de outros carnavais". E desta situação partirá o afastamento ou o alheamento de muitas pessoas no âmbito familiar, no âmbito social restrito ou no âmbito social mais alargado. Há feridas que doem e demoram a sarar; e depois de saradas, a cicatriz fica para sempre como um velho marco assinalando que "em tempos houve aqui algo que correu mal".

O grande Poeta Miguel Torga, no seu poema De profundis, regista superiormente, ainda que noutro contexto, esta ferida de que venho falando:

Eu, esta ovelha ranhosa

que remói silenciosa

a lembrança dolorosa

do pastor que lhe bateu…

Esta citação que me permito fazer remete-me para esta evidência: perdoar um agravo não significa esquecer esse mesmo agravo. E tanto assim será que sabiamente o Povo declara que "quem não se sente não é filho de boa gente".

Ninguém duvida de que há valores a respeitar e que a dignidade de cada pessoa não pode nem deve ser menosprezada ou agredida.

Evidentemente que além da citação e do aforismo, a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU) e a Constituição da República Portuguesa são claras no respeito devido ao ser humano.

Infelizmente, são demasiadas as pessoas que se auto-excluíram. E a pergunta que inevitavelmente se coloca é esta: que benefícios trazem essas exclusões? Ou estoutra: quem beneficia com estas exclusões?

Neste tempo de incertezas, de desencantos, de inconformismos mudos deveremos ou não ponderar um pouco no que somos e no que queremos ser enquanto espécie gregária?

Aqui fica.

*

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 8 de Março de 2017.

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 15/03/2017
Código do texto: T5941757
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